"Eu vou desfazer este carro!". Não se questiona como. Quem joga Burnout apenas questiona quando. Já tínhamos saudades de ter em mãos um jogo da série principal, cansados que estamos de falar de adaptações ou compilações. Finalmente, Burnout Paradise chegou e com ele um ponto de viragem na série, com toda a alma e empenho da Criterion. Uns gostarão, outros detestarão, mas ninguém ficará indiferente.
A produtora do jogo escavou fundo. Foi até aos alicerces que caracterizavam Burnout e dinamitou-os, fazendo ruir toda a estrutura base do jogo. Agora, mal cheguem a Burnout Paradise terão uma cidade inteira à vossa disposição - Paradise City. Ao vosso ritmo, parem nos semáforos, entrem nas inúmeras provas, ganhem, percam, repitam o desafio, a cidade é vossa, o tempo é o vosso e a maneira como o gastam também. E acreditem, para explorar a fundo Paradise City vão precisar de ter muito tempo em mãos… Dada a extensão da cidade quando lá chegarem vão andar um pouco perdidos, constantemente a olhar para o mapa e isso pode afectar um pouco a vossa prestação nas corridas. Porém, passadas as primeiras horas, começam a conhecer os cantos à casa, refazendo mentalmente caminhos, atalhos e maneiras de ir do ponto A ao C sem passar pelo B.
A vossa carreira a solo faz-se agora com base na vossa carta de condução, ou seja, mal chegam à cidade é-vos atribuída uma licença para poderem conduzir e com o superar dos desafios propostos vão subindo de categoria. Inicialmente, é bastante fácil subir de nível, bastando ganhar meia dúzia de provas para passarem ao nível seguinte. Todavia, com o passar do tempo a nossa ascensão torna-se mais dificultada, precisando de ganhar cada vez mais desafios para elevarem o vosso grau de aptidão. Mas não pensem que este subir de escalão é apenas uma característica exibicionista, uma vez que são os escalões atingidos que desbloqueiam novos carros e novos desafios, formando assim um ciclo vicioso.
Tal como mencionámos, o acesso às competições faz-se agora nos semáforos. Ironicamente, os sítios que na vida real têm o propósito de controlar o tráfego rodoviário são em Burnout Paradise o ponto de partida para o caos. Divididas em cinco classes principais, as provas de Paradise continuam, na sua maioria, divertidas e fiéis ao espírito Burnout. Road Rage consiste em fazer um determinado número de Takedowns (provocar um acidente a um adversário) num período de tempo especificado pelo jogo. Burning Route é uma prova em contra-relógio, que exige que tenhamos um determinado tipo de bólide. Dedicado aos velhos aficionados da série, Stunt Man exige que o jogador, numa determinada porção de tempo, atinja um número de pontos encadeando combinações de manobras arrojadas. Para o final deixamos os dois modos mais marcantes. Inédito na série, Marked Man coloca o jogador na pele de um fugitivo, ou seja, têm que chegar ao destino sem que a concorrência vos consiga destruir o carro.
Para o fim deixamos o modo Race, simples, genérico, mas o mais melindroso de ser abordado. Aqui defrontamos um grupo de adversários numa corrida normal, cujo objectivo é chegar em primeiro lugar à meta. Contudo, volvida a primeira dezena de corridas começamos a acusar o cansaço de rotinas idênticas. Com um mapa tão grande à disposição, a Criterion Games podia - e devia - ter variado mais os itinerários. Mesmo recorrendo aos atalhos, a experiência torna-se repetitiva, limitando-se a aprofundar as mesmas abordagens vezes sem conta, o que mecaniza um pouco a jogabilidade.
Independentemente do modo em que estiverem a competir, a jogabilidade mantém-se inalterada, ou seja, continua a assentar totalmente na vertente arcade. Têm apenas de cumprir com o objectivo proposto, vivendo pelo caminho um verdadeiro desafio aos vossos reflexos, tal é a velocidade imposta pelo jogo. Uma vez que foi retirada a opção de reiniciar as corridas, as sensações de vitória e de frustração estão agora mais empoladas. Quando nos esquivamos de uma situação miraculosamente, sentimo-nos orgulhosos dos nossos reflexos. Infelizmente, o reverso da medalha também acontece, quando perdemos a corrida às custas de uma falha no nosso "GPS". Paradise City é uma cidade aberta e nada impede de nos enganarmos no caminho e podemos acabar por "estacionar" o carro nos arrabaldes, deixando-nos de dentes cerrados, com vontade de agradecer com o punho a quem teve a brilhante ideia de meter aquele caminho no mapa.
No entanto, se precisarem de despejar algum ódio podem contar com a ajuda do Showtime, que veio substituir o Crash. Em qualquer altura do jogo, em qualquer parte do mapa, ao pressionarem os dois gatilhos do controlador ao mesmo tempo, entram numa espiral de caos, destruição e dinheiro ganho. Quando aplicam o Showtime destroem o vosso carro ao mesmo tempo que controlam a trajectória do chassis destroçado, de forma a atingirem o maior número de veículos que circulam em redor. Se começarem a falhar muitas oportunidades, o tempo que possuem para a destruição diminui rapidamente. O dinheiro que ganhamos aqui tempo pouca utilidade, mas como um escape para as frustrações, não há melhor.
A sensação de velocidade em Burnout Paradise vai crescendo com o desbloquear de novos carros. Com perto de 75 bólides diferentes, Paradise assemelha-se a um salão automóvel, tal é a variedade incluída. Sobretudo inspirados em modelos reais, a divisão dos mesmos está agora feita de acordo com três categorias principais - Stunt, Speed e Agression - cabendo ao jogador ter o carro mais adequado para cada prova em que participa.
Apesar das dimensões colossais do modo a solo é no multijogador que está o grande trunfo deste Burnout. Designado de Freeburn Online, tem como fundo a mesma Paradise City, só que em vez de andarem a passear pela cidade sozinhos, podem-no fazer na companhia de mais sete jogadores. Para evitar o vaguear infrutífero pelas ruas da cidade, o anfitrião da sessão de jogo pode organizar várias provas. Seja estacionar o carro num determinado sítio, ir em demanda para um ponto específico da cidade, ou então, o melhor de todos, andar simplesmente a tentar destruir o carro do nosso amigo / adversário. Sempre que isto acontecer, se tiverem uma PlayStation Eye ligada à consola são automaticamente fotografados, ou então, caso sejam vocês os causadores de tal situação, verão a cara da vítima na vossa televisão. As lágrimas de tristeza de quem é mandado contra um muro são facilmente confundidas com as lágrimas de riso de quem os envia. Estamos em crer que, caso a Criterion apoie a comunidade de jogadores, Freeburn Online tem tudo para perdurar por um longo período de tempo activo.
Burnout Paradise não é o jogo mais bonito lançado para a PlayStation 3. Contudo, a fluidez com a cidade aparece diante dos nossos olhos sem um único carregamento visível é algo positivo a reter. Quando estiverem a jogar, reparem num pequeno ícone no canto superior do vosso televisor… pois esse é o único sinal de que uma nova zona está a ser "aberta", dada a ausência de qualquer abrandamento. Toda esta fluidez é facilmente transcrita para as corridas. A 60 fotogramas por segundo, a fluidez é praticamente ininterrupta e o único aspecto menos conseguido acontece na destruição dos carros, onde sobressai uma imagem algo pixelizada.
No outro campo técnico, o sonoro, a Criterion foi capaz do melhor e do pior. O conjunto de músicas escolhidas para integrarem o jogo é sublime. Desde músicas dos três primeiros jogos da série, Alice in Chains e até música clássica. A conjugação destas melodias com os rosnar dos motores é uma dose extra de motivação para ganharmos as provas. O lado negativo é o DJ Atomika. Capaz de nos pôr os nervos em franja, os seus comentários irritantes aparecem sempre nas piores alturas. Já não basta perdermos a prova, temos ainda que levar com o humor questionável de Atomika, dizendo coisas do género "Aqui não é a intenção que conta. É mesmo a vitória!". Certamente, a intenção de muitos jogadores para com a sua pessoa não será a melhor
Um ponto de viragem. É esta a melhor maneira para definir Burnout Paradise. Com uma cidade gigantesca à descrição e um modo online cheio de potencial, a longevidade está assegurada, haja a paciência necessária para nos habituarmos ao sistema de navegação. Como em qualquer ponto de viragem este exige o seu tempo de habituação, mas depois de o ultrapassarem não darão o esforço por mal entregue.