Calma pessoal
Sei que muitos acham uma argumentação algo exagerada e até um género de profecia da desgraça, mas acreditem que é hoje que se semeia as colheitas de amanha, e aquilo que a Microsoft tem feito hoje é preocupante para o seu futuro e consequentemente para quem efectivamente usa e gosta dos seus produtos (para não falar do quanto é importante para a indústria ter mais um Player).
Temos que ter noção daquilo que nos rodeia. Parem e pensem no que as futuras gerações usam como Software (SOs e aplicações), com que Software elas crescem. Fazendo uma pequena reflexão por aquilo a que assisto com estranhos e com familiares mais novos reparo no seguinte:
- Não existe "Start Menu", existe "App Drawer";
- Não existem "Themes", existem "Launchers" e "IconPacks";
- Não existem *.msi, *.exe, existem *apk;
- Não existe Windows Store ou o download dos Installers, existe o Google Play e o iTunes;
- Não existem manuais de instruções ou botões a ser carregados, existem Apps (Android e iOS) para configurar um novo produto;
- Não existem Tiles, existem Widgets;
- Não existem Bots, existem Extensions para o iMessage;
- Não existe Skype, existe Messenger, WhatsApp, Telegram, Slack ou qualquer outra coisa Hipster da moda;
- Não existe o Continuum, existe o DeX;
- Não existe o Windows 10 Mobile, existe o Android e o iOS.
Percebem o que eu quero dizer?! É uma questão de tempo até chegar uma nova geração a quem o Windows nada diz, ou é visto como o SO do computador velho dos pais (tal como o MS-DOS é visto por parte de quem anda pelos 20 e tal, 30 anos). Estes miúdos cresceram a jogar "Clash of Titans" no Android/iOS, não "The Lost Vikings" no DOS, cresceram a tomar notas num Google Doc ou numa outra qualquer App de notas disponível no seu Android/iOS, não com o NotePad. Até um miúdo que está a estagiar a propósito da tese de mestrado na minha empresa está a escrever a mesma com o LaTeX, dispensa o Word.
O Windows não vai acabar, até porque continuará a ser necessário para imensas tarefas profissionais, mas reflictam por exemplo sobre a velocidade com que o Android ultrapassou o Windows no que toca ao SO mais usado para navegar na Internet (já que tanto se tem falado do Browser anteriormente). Isto dá que pensar, tem que dar que pensar. O que não irá acontecer com o Consumer Market nos próximos anos?!
E atenção, isto que hoje está a acontecer estava mais que previsto em estudos com 5 e mais anos de idade. Os estudos de hoje dão-nos bons indicativos para o Windows?! Como estará este daqui a 5 anos?!
Uma parte de mim quer sempre pensar "Calma, de certeza que aquilo que eu vejo também eles vêm ... e como é pessoal mais inteligente do que eu com maiores responsabilidades têm um plano para contrariar isto!", mas a realidade e tudo aquilo que tomamos conhecimento faz-me mesmo acreditar que aquele pessoal é tudo menos inteligente.
A Microsoft subestimou o Mobile ... tudo bem, é um erro que pode acontecer a qualquer um até porque não foi assim há tanto tempo que víamos o pessoal a jogar Snake nos seus 3310. Sim, muita coisa aconteceu desde então, mas aceito que ninguém poderia prever a revolução que os telemóveis assim que se tornaram "Smart" trouxeram. Chegou "atrasada" ao novo conceito (não ao mercado, pois ainda bem me lembro de ver o meu primo com um Windows Mobile quando ainda nem se ouvia falar do iPhone - quem alterou o conceito), mas lá respondeu e até conseguiu conquistar percentagens de mercado consideráveis em diversos países.
Chega o Windows 10, numa altura em que já se sabia há anos que o mercado de PCs vinha a descer e o Mobile a crescer, e a Microsoft simplesmente foge do mercado Mobile quando sabe que é aqui onde se encontra mais de 90% do Consumer Market.
Para aumentar o contra-senso, introduz as UWPs que permitem ter um único Projecto de uma Solution do VS a correr em todo o lado ao contrário das Universal Apps do WP 8.1 (que implicavam ter pelo menos 2 Projectos na mesma Solution), desenvolve Bridges para trazer Apps do iOS e Android, desenvolve um sistema de Conversão de Win32 (cujo objectivo final é ficar com uma UWP propriamente dita - executável em todo o lado), compra o Xamarin e insere o mesmo no Visual Studio, tem um sistema que permite criar WebApps embutidas que vão muito mais além que uma simples WebView, cria o Continuum, etc ...
Faz tudo isto, que adivinha uma direcção ao Mobile, e paralelamente "destrói" a Nokia em vez de colher dividendos da sua aquisição, retira o foco do SKU Mobile do Windows 10 que permitiu que este chegasse ao mercado num estado lastimável e nem sequer como sendo um Update normal (é necessária uma App que só aficionados conhecem), pára de fazer dispositivos, foge à promessa da paridade de funcionalidades entre Desktop e Mobile ... e paralelamente aumenta o suporte aos SOs Mobile concorrentes quer de forma oficial, quer através do seu programa MS Garage.
Isto dá-me um nó no cérebro. Parece um barco perdido no meio do Oceano com 4 gajos na polpa e 5 na proa onde os 5 remam para Oeste, e os outros 4 para Este.
A visão do OneCore é brutal, mas a brincar a brincar, a Google está a um salto disso. Basta à Google usar o Chrome como Cavalo de Tróia (como fez com os Chromebooks) e começa a distribuir as suas Apps em todo o lado com uma vantagem que as UWPs não têm - Cross-Platform. Projectos como o Remix OS demonstram bem a ameaça que o Android pode vir a ser para o Windows, não no mundo Mobile, mas sim no mundo Desktop.
Se a Microsoft quer continuar a ser relevante no Consumer Market (onde também se inserem pessoal profissional) tem que agir ontem (como quem está atrasado deve agir) e tem que compreender que tem que se fazer representar de forma séria no Mobile de forma a assegurar a sua posição dominante no Desktop. Tem que haver um foco claro, tem que colocar o seu SO como prioritário (e até exclusivo em alguns casos) para suporte aplicacional, tem que meter os 9 gajos na embarcação a remar para o mesmo lado - preferencialmente o lado onde estão os consumidores não uma ilha deserta perdida no meio do Oceano.