Relativamente ao sentimento "meh" com o iPhone/iOS eu acho que é geral para ser sincero, e isso acontece porque o conceito de Smartphone não tem muito mais por onde evoluir.
Olhamos para os equipamentos de gama média/alta e cada vez mais vejo um Touro preso num quarto - tanto poder de Hardware para tão poucas evoluções de Software, estando este constrangido ao contexto de um Smartphone.
Sinceramente, acho e continuarei a achar que o próximo passo natural é a visão inicialmente pensada pela Canonical e trazida no W10M na forma do Continuum. Era uma primeira versão, mas já pude saborear em primeira mão um pouco daquilo que me fez olhar para os Smartphones como algo muito mais que um mero Smartphone.
A Microsoft devia, não ... tinha a obrigação de ter inteligência suficiente para perceber isto e saber explorar o abrandamento natural de evoluções no mundo do Smartphone nos rivais para expandir o seu espaço fortalecendo directa e indirectamente o seu mercado principal, assim como colocar-se numa excelente posição no que diz respeito a um ecossistema verdadeiramente universal.
Isto é um tema que me afecta mais do que devia, até porque profissionalmente obriga-me a repensar muitas coisas além de ser obrigado a abandonar tecnologias e metodologias de trabalho que estão muito à frente das alternativas massivamente adoptadas. No outro dia estava aqui a ajudar um superior meu numas dúvidas em UWP (está a fazer uma experiência em iOT) e uma vez estas clarificadas aproveitei para demonstrar como a App corria no meu Lumia e restante ecossitema e que portas eram consequentemente abertas. Esse meu superior vira-se para mim e diz algo como "Estes tipos da MS em Desenvolvimento de Software são uns monstros, incrível mesmo!", ao qual eu reagi com um sorriso amarelo pois embora concordar, sei bem o que a casa gasta.
Não tenho dito nada aqui, mas nas últimas 3 semanas tenho estado a trabalhar em Xamarin (uma App que será apenas para Android e iOS - o que demonstra bem que nem aqui a MS consegue beneficiar-se) e é incrível o poder da plataforma e a facilidade com que se mete a correr em SOs de terceiros e tão dispares dos da MS técnicas e metodologias de programação que não são nada comuns em tais plataformas. Ver os Conceitos de Data-Binding a correr de forma tão natural em Android e iOS a partir de um ViewModel único partilhado por ambas as plataformas enquanto deixa quem apenas conhecia MVC e afins "invejoso" pelo MVVM é algo lindo, é poesia.
Entretanto aprendi bastante Android juntando aos conhecimentos que já tinha em iOS e Windows. Ainda tenho pouco tempo de Android, mas já sei de ante mão que não tenho nem de longe nem de perto o poder e a clareza de um XAML, assim como tenho que dar várias voltas para fazer algo que é tão natural como respirar (Selectors, Custom Elements, etc) - nem vou falar do suporte das várias APIs e afins.
Sou um gajo revoltado por natureza, mas esta situação da MS ser esmagada por quem tem ambientes de desenvolvimento tão "arcaicos" (não é a melhor palavra, mas é o que sinto) materializa ainda mais a minha tristeza em lágrimas com toda esta situação. Muitos exemplos existirão, mas se há coisa que este exemplo demonstra é que não basta encontrar ou ter as coisas, é preciso o Kit de Unhas para o saber explorar. A Microsoft tem aquele que é provavelmente o melhor IDE do mercado, tem de forma padronizada uma metodologia de desenvolvimento poderosíssima, tem uma Markup Language que é um autentico recital, tem um OneCore que possibilita ter o mesmo binário a correr em todos os tipos de Devices deles ... isto chega ao ridículo de até facilmente se meter o mesmo código a correr em Android/iOS sem qualquer alteração assente nas (agora) suas tecnologias de Cross-Platform.
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@Dark Ang3L acabou por resumir toda a desilusão (ou ilusão) na sua última frase. Antes do lançamento do Windows 10 estava eu a trabalhar numa UWP há uns 2 meses vindo do mundo do iOS (onde estive 2 anos) convencido que as UWP, o OneCore e todos os planos e 1001 formas de trazer Apps para a plataforma iriam criar uma nova realidade, muros seriam derrubados, o Software não seria mais de Desktop, Smartphone ou Consola mas sim de tudo e todos tal como a Web o é. A própria velocidade de implementação (que suponho já dar continuidade ao que era a realidade no Desenvolvimento de Software para Windows - quem já cá estava poderá confirmar) e a forma natural, óbvia e clara como as coisas trabalhavam permitia imaginar as UWPs a aparecer como cogumelos (da mesma forma que apareciam as Win32).
As minhas expectativas não eram altas, eram altíssimas. Claro que também não me deixava invadir pela êxtase, sempre fui uma pessoa tremendamente negativa, mas eu via as coisas a acontecer em meu redor e era impossível não ter boas perspectivas para o futuro. Um ano depois, já com um misto de apreensão e esperança, arranjei a bom preço o meu 950XL e a respectiva Dock e voltei a ficar motivado. Mais, ao usar o Continuum pela primeira vez enquanto rapidamente me esquecia que durante umas horas de Browsing, Downloads e afins estive sempre a usar o meu Smartphone, voltava a sentir motivação e a voltar a ver aquelas barreiras de que falava antes a ser derrubadas.
Nada se veio a confirmar/materializar em coisas boas. A Microsoft recuou no jogo quando o adversário estava fechado na sua defesa com medo de atacar, recuou no jogo no exacto momento em que deveria ter apostado tudo. A visão do OneCore, das UWPs e das suas possibilidades era algo que vinha a ser feito ainda antes dos tempos do W8 ... quando finalmente têm algo palpável e funcional (e até tinham em seu poder o Know How de uma grande empresa da Indústria) recuam, fogem intencionalmente. Não compreendo e morrerei sem compreender!
Acredito piamente que fazendo o contrário teriam conseguido expandir o Market Share em Mobile e teriam ajudado o Windows 10 em PCs a chegar aos números que provavelmente nunca veremos a acontecer, além de que teriam aberto espaço para um caminho que levaria o Smartphone a ser algo mais, da mesma forma que os Laptops vieram trazer a mobilidade aos velhos, pesados e brancos Desktops.
O Sr. Nadella (que desta vez chamarei pelo verdadeiro nome para não ofender uma marca que faz um produto tão saboroso) trazia uma ideia de mudança que inicialmente parecia positiva, mas no final das contas esta mudança é apenas o inicio daquilo que será o fim de uma enorme empresa no Consumer Market. Pior que isso, venderam a alma ao diabo tendo trocado uma posição de constantes Geeks curiosos (e por vezes desajeitados) por uma de Cucks Wannabees com tiques de Politiquices e porcarias que em nada têm a ver com aquilo que deveriam estar a fazer. A visão já estava em falta (lembro-me do Ballmer a gozar com o iPhone), mas pelo menos havia o reconhecimento do erro e um esforço em perseguir aquilo que é o presente e será o futuro durante os próximos anos (e servirá de ponte para o futuro posterior como vemos a Apple e Google a fazer com o AR).
A morte do Windows 10 Mobile não é propriamente novidade, mas o que irá acontecer no futuro próximo acelerará ainda mais a morte de todo o ecossistema - cenário não tão claro ainda por causa do PC Gaming e necessidades Profissionais.
O pior mesmo é a ausência de motivos para qualquer tipo ou forma de esperança. Agora já se fala nas PWA como próxima intenção/objectivo. Como ficam as UWPs?! É uma pergunta para a qual prefiro nem saber a resposta, só sei que tudo isto a que assistimos só demonstra desnorte, alguém que quer tudo mas não tem qualquer tipo de foco. Parece um clube de futebol desesperado em ganhar títulos que todos os anos compra uma equipa nova (reinicia a estratégia) só porque não teve sucesso imediato na época anterior. Não há uma estrutura de crescimento porque não há estratégia com foco, com a teimosia necessária para a implementação de uma ideia, sem essa estratégia e teimosia não há espaço para o crescimento.
Fico triste com tudo isto, mesmo ... a sério. Mas se há coisa a retirar daqui é aquilo que todos sabemos: pessoas erradas nos locais errados são uma combinação muito perigosa. Haverá sempre a tentativa de haver vitimização (em alguns casos acho que até havia espaço para isso) e apontar os dedos a factores de terceiros, mas a verdade é que tudo isto que vivemos, o facto da MS pouco ou nada dizer às novas gerações são o reflexo da incompetência criminosa (sublinho o "criminosa") de quem tem ocupado os lugares errados dentro da empresa. Como disse o outro Marcelo, "nem para servir à mesa serviriam" quanto mais comandar pessoas.
Sei que para muitos isto poderá parecer demasiado trágico até porque é apenas um SO, apenas um conjunto de linhas de código que formam Software, mas é o que sinto como Utilizador que cresceu com a Microsoft e como Dev (que curiosamente até sou bastante "novato" no mundo do C#, XAML e afins - antes tinha feito umas brincadeiras em VB). Muitos acham que o "tragicismo" por mim pintado é exagerado perante os resultados da empresa e a satisfação dos accionistas, mas isso é como o futebol ... as vendas de jogadores, o dinheiro que entra é relevante para a SAD, mas o valor desportivo, a qualidade do futebol é o que realmente interessa para o Consumer Market e é este que irá influenciar (custe o que custar) o alcance da marca, o andar nas bocas do mundo, os títulos, as vendas e por fim o dinheiro que vai para a SAD completando assim o ciclo.
A saída do Mobile irá matar a Microsoft no Consumer Market, e a forma como geriram o W10M num momento crucial (concretização do OneCore e das UWPs) poderá simbolizar um tombo que não terá recuperação. Um dia pode ser que venham a reconhecer que o tempo perdido em desvaneios como o HoloLens (não um desvaneio em si, mas o TimeToMarket e o tempo perdido) teria sido muito melhor usado em fortalecer o W10M e dar-lhe a possibilidade de ser bem sucedido (já muito fez ele estando os seus pais a "lixar" para ele - falo como utilizador satisfeito com boas experiências - nenhum dos meus Lumias me deixou ficar mal alguma vez).
Porra para isto (para não dizer outra coisa)!