Menciono-te uma série de aplicações de O&M de redes e de por exemplo sistemas VoIP.
OK, venham de lá essas aplicações (free/open source, porque proprietárias eu sei que existem) que só bulem em algumas distros.
Mais uma vez lá está, a maioria do pessoal fala do conhecimento que tem, que se limita aos testes em casa e/ou empresas de pequena dimensão ou não especializadas. Não que seja mal, nem que não devam ter opinião, mas desconhecem uma parte do mercado que é a das empresas de alguma dimensão e que, acreditem, são um mundo completamente diferente.
Isso é verdade: cada um vê e interpreta o mundo consoante a sua limitada experiência. Trabalhar numa micro ou pequena empresa dá-te uma experiência e versatilidade que não adquires quando estás numa empresa de 'alguma dimensão', onde há maior especialização dos assalariados.
Ambas as experiências condicionam a interpretação que cada um faz do mundo e ajudam a moldar a sua opinião sobre os outros e suas relações com eles.
Esta conversa é para te dizer que o tecido empersarial - privado - português é composto por 97% de MPMEs, que representam 65% do total da mão de obra privada e, em média, estas empresas têm 5 trabalhadores. Por conseguinte, é esta realidade - com todos os reflexos nos planos sociais e psicológicos individuais e comuns - que impera actualmente no nosso país.
Ou seja, o facto de teres a percepção que as "empresas de alguma dimensão (...) são um mundo completamente diferente" é reflexo da tua posição actual nesse mesmo mundo: julgas que, por teres um papel social activo numa empresa de 'alguma dimensão', terás uma experiência profissional também de 'alguma dimensão'. E isso, em certa medida, corresponde à realidade.
4 exemplos: um assalariado numa MPME tem maiores dificuldades de valorização profissional do que um assalariado numa empresa de 'alguma dimensão'; um trabalhador de uma MPME não tem a espcialização, nem o tempo socialmente necessário, para se especializar que tem o trabalhador de uma empresa de 'alguma dimensão'; um trabalhador de uma MPME recebe menos ao fim do mês que um trabalhador de uma empresa de 'alguma dimensão'; numa MPME há menos desperdício de recursos - humanos, materiais e financeiros - do que numa empresa de 'alguma dimensão'. Esta realidade molda inquestionavelmente a visão de cada um sobre si próprio e, principalmente, sobre os outros.
Decorrente da minha actividade profissional, lido pessoal e regularmente (como fornecedor e como cliente) com empresários e trabalhadores de MPMEs, empresas de 'alguma dimensão' e multinacionais, privadas, públicas e mistas; conheço relativamente as diferentes realidades e problemas em cada um destes tipos de organizações, as suas formas de pensar e resolver problemas, os recursos que têm ou não disponíveis, as suas necessidades e possibilidades.
Ligando esta conversa ao tema original 'Distros linux mais usadas em empresas', sou da opinião que as distros mais usadas em empresas de 'alguma dimensão' são aquelas cujo marketing é mais agressivo e aliciante e que fazem circular mais capital. Não que sejam distribuições qualitativamente superiores às restantes, simplesmente têm maiores investimentos em publicidade, em I&D e em suporte ao cliente. No mundo Linux existe - como em tudo - muita publicidade e buzzwords dirigidas especificamente a decisores de empresas de 'alguma dimensão', que tomam essa publicidade como o 'estado da arte' no negócio e decidem de acordo com a música que melhor lhes soa: o que conhecem é o que lhes é vendido (como acontece com todos nós).
O pessoal manda-lhes as descrições técnicas e os gajos toca de botar 9's naquilo
É exactamente o mesmo que os comerciais das outras empresas fazem aos decisores das empresas de 'alguma dimensão'. Enfim, é o nosso mundo.
greatbunzinni:
O panorama económico português é dominado por PMEs, onde predomina o patrão inculto e ignorante que sempre fez as coisas duma maneira e não quer mudar.
Patrões incultos e ignorantes não são um exclusivo das PMEs, são uma realidade em todos os tipos de empresa. Mais: essa ignorância não é exclusiva de quem manda, também afecta aqueles que são mandados.
O que acontece em muitas micro e pequenas empresas é que o gerente tem de decidir entre comprar um computador ou pagar um salário (que até pode ser o dele); entre modernizar a empresa ou ter dinheiro para comer; entre informatizar-se ou ficar no desemprego (sem subsídio). Conheço alguns que fazem significativos sacrifícios pessoais para conseguirem manter a empresa em funcionamento. Também conheço alguns que são autênticas bestas, que toda a vida esmifraram os seus clientes apenas para terem os seus barcos e casas de luxo.
greatbunzinni:
O mundo das distribuições de linux está dividido basicamente em duas classes: baseadas em Red Hat e baseadas em Debian.
hum... essa divisão é um pouco tendenciosa. Ora qui fica a 'timeline' das distribuições Linux:
http://futurist.se/gldt/gldt76.png Se reparares, são 3, e não 2, os grandes eixos do desenvolvimento inicial das distribuições Linux.
Não há muitos motivos para olhares para outras distribuições se o teu objectivo é utilização profissional.
Aí está um exemplo de que os 'mandados' também podem ser 'incultos e ignorantes'. Há todos os motivos para olhares para distribuições que saltem fora da órbita da grande circulação comercial. Há soluções diferentes para problemas comuns. Quanto mais conheceres, mais ferramentas tens para resolver os problemas (velhos e novos) que te saltarem ao caminho. O que eu diria seria: não vale a pena perderes muito tempo com: 1) distribuições que já não existem; 2) distribuições 'brincalhonas' - isto é, aquelas que foram feitas para ocupar o tempo livre -, e 3) distribuições dirigidas especificamente a determinados nichos - tipo multimédia, segurança, jogos, etc - porque mais não fazem que seleccionar software e dar-lhes um embrulho apropriado.