Sim, mas e se usar a consola em offline?
Se o que estiver a ser discutido online for verdade, e agora que se vão sabendo mais detalhes, consegues perfeitamente usar e jogar offline na PS4, enquanto:
1. a pilha da CMOS (a tal das motherboards dos PCs) tiver carga;
2. os servidores da PSN estiverem online.
Enquanto a condição 2 se verificar, a condição 1 pode perfeitamente falhar. Trocas a pilha, a PS4 obriga-te a ligares-te à net para ajuste do clock interno da consola, e a partir daí podes perfeitamente ter a consola 100% offline anos e anos a fio até eventualmente a pilha da CMOS ficar sem carga novamente. Os servidores ainda estão online, não há problema em a pilha morrer.
Quando compras a consola não precisas de ligar a PS4 à net, pois a bateria da CMOS é nova e o clock interno já vem ajustado de fábrica pela própria Sony.
O problema coloca-se quando a condição 2 já não se verificar (a Sony eventualmente desligar os servidores que controlam este mecanismo para a PS4), e a condição 1 falhar também (pilha da CMOS perder a carga). Trocas a pilha, muito bem, mas depois o SO da consola obriga-te a ligar à net para conexão aos servidores da Sony para ajuste do clock interno. Nessa altura os servidores poderão já estar desligados, a consola não consegue fazer a sincronização e o sistema da consola bloqueia como medida de segurança com mensagem de erro.
Estas pilhas do tipo botão (as mais usadas são as CR2032) duram anos, mas eventualmente falham, e é preciso trocá-las. Se for uma CR2032, ora por outra CR2032 ora por uma ML2032 (recarregável), com alguma modificação necessária ou não (Dreamcast por exemplo).
Nem é uma questão de verificação de licenças dos discos como tinha dito inicialmente, mas sim aparentemente uma medida de anti-cheat relacionada com os troféus da PSN, de forma a evitar a adulteração das datas na conquista dos mesmos. A Sony programou a consola desta forma por permitir a vantagem de ganhar troféus mesmo no modo offline, no entanto, tem a desvantagem de que se eventualmente a pilha da CMOS morrer, a informação contida na CMOS é apagada, e tem que ser reconfigurada com uma conexão online. O DRM para os troféus é ao mesmo tempo local, mas também online. Da forma que o sistema está implementado actualmente, só a Sony consegue reconfigurar o clock interno da PS4 segundo dizem. Mas dado que o problema é agora conhecido, o primeiro passo está dado para haver interesse na sua eventual resolução.
Na Xbox, o sistema de achievements é diferente. O DRM para os achievements é totalmente online. O primeiro setup da consola tem que ser feito com ligação à net (ao contrário da PS4 ou da PS5, em que o primeiro setup da consola pode ser feito offline), a partir do qual podem desligar inteiramente a consola da net para jogar físico. No entanto, não há desbloqueio de achievements no modo offline, como há na PS4. Os achievements são desbloqueados, possivelmente através de uma flag que é armazenada na consola, mas o desbloqueio só acontece realmente quando a consola é reconectada à net. Nessa altura os achievements aparecem como desbloqueados, mas com a data em que a consola foi ligada à net, não com a data em que realmente foram desbloqueados ingame com a consola em modo offline, como acontece na PS4.
A solução para esta questão da PS4, passa pela Sony remover a necessidade para estas conexões online quando descontinuar os serviços para a consola com uma actualização de firmware da mesma. Isso implica que o sistema de troféus passe a ser mais fácil de ser explorado por cheaters, no entanto pouca importância terá na altura dado a descontinuação da consola e dos seus serviços (logo troféus), pelo que é apenas uma questão de vontade quando a altura chegar. Ou então continuar a manter os servidores que desempenham esta função do sincronismo do clock interno da consola, mesmo após a descontinuação da mesma.
O medo é que a Sony, como qualquer outra empresa do ramo, nunca "corrija" estas conexões online obrigatórias quando descontinuam os seus produtos como é habitual (afinal de contas, nunca na sua história tornaram open-source o código fonte de servidores para jogos multiplayer, de stores digitais, etc, por questões de IP e de segurança), pois no final de contas, estão a operar para fazer dinheiro, não para o perder, e quando descontinuam produtos e serviços invocam sempre o factor de "já ninguém usa a consola e as stores digitais, pelo que não vale a pena continuarmos a gastar milhares na manutenção de servidores ou a actualizar equipamentos para meia dúzia de utilizadores que ainda usam estas consolas obsoletas", pelo que o utilizador está sempre no final da lista de prioridades, e o dinheiro em primeiro, quando chega a hora de desligar a ficha. Avisam com antecedência que o vão fazer, chega a data, desligam a ficha e pronto.
Neste caso, como a própria consola tem DRM online, a consola eventualmente vira praticamente um pisa-papéis e nem o físico se safa.
Se isso vier a acontecer, resta o jailbreak, mas chegado a esse ponto, ter físico ou não ter vai dar ao mesmo, dado que a diferença entre correr os discos físicos que temos em casa ou backups digitais dos mesmos é zero em termos práticos.
Sem jailbreak, mantendo a consola totalmente "vanilla" a correr o sistema operativo oficial, é ir fazendo manutenção preventiva à pilha da CMOS. Coisa que não é totalmente fácil de fazer, a começar logo pelo facto de a pilha não estar num local acessível ao utilizador, ao contrário de como acontece por exemplo numa Sega Saturn, num PC desktop, numa Sega Dreamcast, ou num PC portátil (exemplos que consigo dar, do mais acessível para o menos acessível), dado que para chegar à pilha da PS4 é preciso desmontar a consola à semelhança de um PC portátil e
tirar a motherboard para fora da mesma, pois a pilha está inclusivamente no lado debaixo da motherboard. É um serviço acessível para quem esteja habituado a fazer este tipo de manutenção, mas para o qual muita gente não se sente confortável em o fazer.
E mesmo assim, chegando a um cenário em que a Sony descontinuou os serviços da PS4, e não fez nada para "corrijir" este problema da obrigatoriedade da conexão online na PS4, para fazer a troca preventiva da pilha da CMOS, é preciso garantir que durante todo o processo, a CMOS não perde alimentação, de forma a manter a tensão/voltagem ao terminais da mesma. Porque se a CMOS perde a alimentação em algum momento, a sincronia do clock essencial para determinados mecanismos de DRM na consola, e demais informação contina nela, é apagada e sem servidores online, é impossível reverter. Pelo que não é só tirar a pilha que está a ficar fraca e colocar outra nova, porque basta tirar a pilha velha para apagar tudo na CMOS.
A questão do controlo das licenças dos discos físicos através de DRM online seria algo mais como a Microsoft queria fazer no lançamento da Xbox One, mas ainda assim, serve para mostrar que ao contrário do que por norma se pensa, as consolas modernas estão mais interligadas com o digital e medidas DRM online mais do que se pensava, mesmo para o formato físico. Tanto Sony, como Microsoft, como Nintendo, como Sega, etc, sempre mostraram sinais de que queriam controlar o físico, e têm cada vez mais ferramentas para o fazer.
O argumento "irá ser sempre possível jogar o físico, mesmo offline e após descontinuação das consolas, sempre foi assim e sempre será!" tem sido válido até agora nas consolas, mas porque as consolas até agora não tinham tido DRM online como as consolas actuais e que ainda são suportadas têm. Acabando o seu suporte, iremos realmente ver se isso ainda se verificará...
Já é assim no PC há muito tempo, onde não há praticamente físico real. O físico ainda existente está 99% das vezes preso a uma activação numa store digital, e serve apenas como complemento à descarga de GB e GB de dados, dado que ainda nem toda a gente tem ligação à internet rápida e/ou ilimitada (sem limite de dados mensais).
E as consolas já há muito tempo que dão sinais de para lá caminhar também. As consolas actuais não oferecem garantias que daqui a 10, 15, 20 ou mais anos, ainda consigamos jogar sequer os jogos físicos que vamos coleccionando ou guardando, como acontece agora, precisamente devido ao DRM que as companhias colocam não só nos jogos (digitais ou físicos) como nos serviços online ou nas próprias consolas.