Venho "desenterrar" este tópico porque eu tenho reflectido um pouco sobre este tema, e queria partilhar a minha opinião, mas numa abordagem ao streaming de videojogos que ainda não vi ninguém tocar.
Portanto, eu quando penso em streaming de videojogos, penso que tal será efetuado com recurso a um serviço, semelhante ao Netflix. O Netflix encontra-se disponíveis em diversas plataformas, seja PC's, consolas, smartphones, tablets, smart TV's, e a lista continua. Desde que determinada peça de hardware tenha Netflix disponível, conseguimos usufruir do serviço. Assim também penso em relação a um serviço de streaming de videojogos. Podermos aderir a um serviço de streaming de jogos, pagando por uma subscrição anual, e podemos usufruir de tal serviço não importa o hardware, desde que dê para usufruir do serviço. O Phil Spencer assim o disse na E3 deste ano. Querem trazer jogos da Xbox atual para podermos jogar em smartphones e tablets, com recurso a streaming. O mesmo também disse a EA também na E3 deste ano. E a Ubisoft também parece estar interessada. Também acho seguro dizer que a Capcom está interessada, uma vez que a Capcom lançou o Resident Evil 7 Cloud Edition para a Switch, e provavelmente vai lançar mais um ou dois jogos com recurso a streaming.
Agora, eu coloco-me a questão: porquê jogar videojogos via streaming? Qual é o motivo que a "indústria" tem apontado, que justifique jogarmos os nossos jogos via streaming? O principal motivo: podermos jogar em qualquer lado. Porque quando a EA ou a Microsoft fala de streaming de videojogos, eles não falam de streaming num PC ou numa consola. Eles falam de streaming num smartphone. É o factor de podermos ter uma experiência de consola doméstica de videojogos em qualquer lado que formos, com recurso a streaming.
Eu sei que presentemente é desafiador jogar videojogos via streaming. E muitos de vocês já aqui comentaram que ainda falta uns anos até que jogar videojogos via streaming será algo feito sem lags, sem qualquer consequência negativa. Também alguns já disseram que mesmo que streaming de videojogos venha a funcionar na perfeição, tal não irá substituir consolas.
Mas vamos supor que eventualmente isso venha a acontecer. Vamos supor que todos nós conseguiremos jogar videojogos nos nossos smartphones e tablets, via streaming. Ligamos comandos via bluetooth aos nosso aparelhos, jogamos os nosso jogos via streaming, quer sejam experiências multiplayer, quer sejam jogos singleplayer. Poderemos jogar os nossos Call of Duty's, os nossos Assassins Creed's, os nossos GTA's, os nossos Fifas. Não existem input lags, não existem problemas de conexão, não existem desvantagens. Apenas pagamos por uma subscrição a um serviço de streaming, e temos acesso a diversos videojogos. Se tal vier a acontecer, qual será a justificação de comprarmos uma consola de videojogos? Para quê gastar entre 300 a 500€ numa consola, e 50€ por jogo (em média), quando posso jogar os mesmos jogos no meu smartphone e tablet, pagando por uma subscrição mensal que rondará os 10€ a 15€ (provavelmente), o que faz no fim do ano uma despesa de 120€ a 180€?
Existem alguns argumentos que justifiquem jogar numa consola, em vez de jogarmos via streaming. Nas consolas, temos os nossos jogos em formato físico. Enquanto os tivermos, são nossos. Já num serviço streaming, de X em X tempo, alguns jogos provavelmente serão retirados do serviço, e outros entram. Significa que poderemos jogar um grande catálogo de jogos, mas ao fim de X tempo, já não teremos acesso a um determinado jogo. Enquanto que, numa consola, enquanto tivermos o jogo em formato físico, é nosso. Poderemos jogar o jogo agora, daqui a 10 anos, daqui a 20 anos, ou mais. Desde que o disco não esteja danificado, bem como a consola. No entanto, a tendência é cada vez mais pessoas jogam os seus jogos comprando-os digitalmente, e agora recentemente, mais pessoas preferem aderir a serviços como o Xbox Game Pass, em que as pessoas não "possuem" os seus jogos, apenas têm acesso aos jogos que estão no catálogo. E que de X em X tempo vão sendo retirados. Claro que no caso do Xbox Game Pass, os jogos não são jogados via streaming, mas sim faz-se download. E quando X jogo é retirado do catálogo, mesmo que tenhamos feito download dele, para podermos continuar a jogar, ou temos que inserir um disco, ou adquiri-lo digitalmente. Xbox Game Pass é praticamente o futuro de streaming de videojogos, com a grande diferença que de momento faz-se dowload dos jogos. E esse serviço já está a ter uma boa adesão, e a cativar várias pessoas para este estilo de negócio. Não só apenas consumidores, mas também companhias de dentro da indústria. Ora vejamos a EA que mostrou os seus planos para o Origin Access Premier. E os rumores de que a Sony está com planos de fazer uma versão offline do PS Now, com jogos da PS4. Por isso, apesar de hoje em dia existir muitos consumidores que preferem "possuir" os seus jogos, serviços como o Xbox Game Pass estão a mudar mentalidades. E quando streaming de videojogos "vier para ficar", acho que a opinião da grande maioria dos consumidores será a favor de aderir a um serviço, do que comprar jogos separados.
Outro argumento que também posso pensar, é que certamente jogarmos jogos via streaming nos nossos smartphone e tablets, mesmo que sejam experiências puras, sem consequências negativas, haverá sempre um factor negativo: bateria. Eu nunca aderi ao Netflix, mas posso bem imaginar a rapidez com que ver um episódio de 45min num smartphone gaste a bateria do mesmo. Mas temos powerbanks, que acrescentam mais vida à bateria. No entanto, se vier a existir este tipo de serviços, duvido que eles fiquem apenas disponíveis em smartphones e tablets. Acredito que também poderão ficar disponíveis no PC. E quem sabe, também em Smart TV's.
Eu acho que, se eventualmente streaming de videojogos vier a existir, na perfeição, poucas serão as pessoas que irão querer comprar uma consola de videojogos. Claro que numa consola, poderemos vir a ter a opção de fazer download do jogo, adquirindo-o digitalmente. Mas como vários consumidores já estão a aderir ao Xbox Game Pass, acredito que cada vez mais pessoas vão preferir aderir ao serviço do que comprar uma consola.
Mas, depois desta "lenga-lenga" toda, aqui vai a minha "preocupação", a tal coisa que ainda não vi ninguém referir. SE tudo isto vier a acontecer, se no futuro longínquo, todos nós passaremos a aderir a subscrições para jogarmos os nossos videojogos, via streaming, jogando-os nos nossos smartphones/tablets/PC's.... eu acho que a indústria em si vai mudar muito, talvez de uma forma negativa.
Eu acredito que nesse "mundo", todas as grandes editoras farão o seu próprio serviço de subscrição. EA fará o seu "Origins Streaming". A Ubisoft o seu "UPlay Streaming". A Microsoft também. A Sony também. Também Capcom, Square Enix, e a lista continua. Basicamente todas as grandes editoras farão os seus serviços. E algumas delas terão jogos apenas para os seus serviços. Por exemplo, de momento não vemos jogos da EA na Steam. Acredito que no futuro, a EA disponibilize os seus jogos apenas para o seu serviço de streaming. E outras editoras poderão vir a imitar o mesmo. E o que poderá vir a acontecer é querermos subscrever ao serviço streaming da Sony, e não termos acesso a jogos da EA.
Claro que sempre existe a hipótese de que as editoras podem fazer acordos com Sony, Microsoft e até Nintendo para disponibilizar seus jogos nos serviços respectivos das "3 grandes". Mas é uma hipótese a qual não acredito muito. É porque, imo, o que separa Sony, Microsoft e Nintendo de editoras como Capcom, Square Enix, EA, Activision, Ubisoft, entre outras semelhantes, é o facto de que a Sony MS e Nintendo produzem hardware para os seus consumidores jogarem os seus videojogos. As restantes editoras não o fazem. Mas se num "mundo" em que videojogos via streaming serão o factor principal para gaming, a Sony Microsoft e Nintendo deixarão de ter que fazer hardware, e isso as colocará +/- no mesmo patamar que EA, Activion, etc... E essas editoras poderão querer aproveitar tal oportunidade para, em vez de continuar a dar apoio, competirem com a Sony, Microsoft e Nintendo.
Sei que é muita imaginação minha, e provavelmente estou a exagerar. Mas eu penso nisto com alguma preocupação, porque isto pode vir a afectar de uma forma bem negativa a indústria dos videojogos.