Eu diria que o mais triste é ver que há pessoal que prefere que os estúdios sejam o menos transparentes possíveis e se limitem a um mínimo de interacção com a comunidade, recorrendo apenas aos típicos ciclos de PR da indústria. O anúncio do Project CARS 2 em nada influencia o suporte que o primeiro iria (ou irá) obter. A alternativa não seria terem o estúdio todo (mais de 100 pessoas com diversas funções) a suportar o jogo, seria simplesmente não anunciarem a sequela (ou outro projecto) até estar mais próximo da data de lançamento. Nenhum estúdio com mais de 20 ou 30 pessoas mantém a
totalidade do seu staff a suportar um jogo que acabou de sair durante meses ou anos a fio, a não ser que o seu modelo de negócios seja orientado para serviços em vez de produtos, onde se encaixam os MOBAs, MMOs e demais F2P. Basta olharem a alguns dos jogos melhor suportados nos últimos anos (The Witcher 1/2, CS:GO, Arma 3, TF2, Don't Starve, entre outros) para verem que essas produtoras também tinham outros projectos em desenvolvimento em simultâneo.
Na situação hipotética sugerida, onde a Slightly Mad estaria apenas a trabalhar no Project CARS, as pessoas que estão actualmente a trabalhar no Project CARS 2 não estariam a corrigir problemas ou adicionar mais conteúdo; a maioria estaria sem fazer nada ou teriam sido despedidas porque não as podiam manter no estúdio devido aos elevados custos operacionais. Os estúdios não são compostos somente por gameplay programmers e testers; não são os environment artists que vão andar a fazer debug ou os sound designers que vão estar a polir o funcionamento do force feedback. Nenhum estúdio independente, que funcione num modelo orientado a produtos e se queira manter operacional, vai parar no tempo e colocar todos os empregados a suportar um jogo durante um par de anos sem iniciar desenvolvimento no próximo projecto. O que fazem é alocar uma equipa dedicada somente ao suporte e desenvolvimento desse produto, enquanto o resto do estúdio trabalha no próximo projecto de modo a garantir a sua sustentabilidade.
Estar insatisfeito com a qualidade do suporte prestado pela Slightly Mad e questionar se não apressaram o lançamento da versão final é uma crítica perfeitamente válida. A realidade é que o jogo não devia ter saído de Early Access antes de terem corrigido vários dos problemas que apresenta. Por outro lado, equacionar essa falta de suporte com o facto de terem um segundo projecto em desenvolvimento não é justificado, porque ninguém que tenha uma ideia mínima de como um estúdio funciona pode acreditar nisso. Se o Project CARS não receber a atenção esperada nos próximos tempos, não é por estarem a trabalhar numa sequela; é porque a Slightly Mad fez um mau trabalho a suportar o jogo. É nesse aspecto que deve ser fortemente criticada, não por desenvolver projectos em paralelo como qualquer outro estúdio da sua dimensão tem de fazer se quiser garantir a sua subsistência.
Raimundojcc disse:
Bem haja 2k, bethesda, e outras que continuam a ter os players como primeira prioridade.
Ignorando os problemas inerentes à comparação de editoras com múltiplos estúdios com um único estúdio independente, estamos a falar da mesma 2K que corta conteúdo para vender em season passes, que lança sequelas anuais de franchises sem qualquer evolução e com features capadas (NBA 2k, WWE), que lança toneladas de DLC pago em praticamente todos os jogos e adiam ports dos seus jogos durante ano e meio para lançarem remasters a €60? Que fez o péssimo trabalho que todos sabemos com o Evolve, um jogo basicamente morto à nascença pelo modelo anti-consumidor que adoptaram? É que mesmo falando da Firaxis, que é o estúdio da 2K que melhor suporta as suas comunidades, o XCOM 2 começou o seu desenvolvimento assim que o XCOM foi lançado e não foi por isso que deixou de receber updates (ainda que poucos) e uma expansão; nessa perspectiva não teriam também deixado os jogadores para segundo plano?
O mesmo se aplica à Bethesda, praticamente todos os jogos têm DLC pago - parece que já nos esquecemos de quem começou a trend com o horse armor em 2006 - e lançam produtos com imensos problemas técnicos que nunca chegam a ser corrigidos, com a agravante de deixarem esse trabalho para a comunidade. Nem vale a pena mencionar a tentativa de monetizar mods para seu próprio benefício, sem qualquer preocupação com os efeitos vastamente prejudiciais que teriam (e tiveram) na comunidade.
Se estas duas são exemplos de empresas que têm os jogadores como primeira prioridade, a indústria deve estar em pior estado do que pensava.