Restauração de osciloscópio

Boas!

Venho aqui partilhar convosco o meu mais recente projecto que concluí, pelo menos parece-me que tenha sido com sucesso: a restauração de um osciloscópio. Isto é, não era suposto que fosse - comprei-o no Ebay como perfeitamente funcional e bem conservado e de facto chegou assim. Mas após 20 minutos a funcionar, fez "Puf" e saiu fumo cinzento e cheirou a queimado. Desliguei-o imediatamente (de notar nunca deixou de mostrar o sinal no ecrã até eu o desligar). Suspeitei imediatamente que tivesse queimado um condensador, devido à idade (é de 1986) e fui arranjar o service manual (se alguém precisar, posso enviar por e-mail) e abri-o. Encontrei rapidamente o culpado, para minha surpresa não era um condensador electrolítico mas sim um de filtragem de rede X2 (depois vim a encontrar na net a informação de que esses condensadores usados nestes osciloscópios da Philips e algumas outras marcas são particularmente ruins e passado uns quantos anos, literalmente acabam por explodir). Como não tinha nenhum e tinha que fazer uma encomenda, decidi encomendar logo os condensadores electrolíticos e fazer um "recapping" completo, pois com essa idade poderia vir a haver mais problemas no futuro. Dito e feito, lá comecei a desmontar tudo quando tinha as peças. A desmontagem revelou ser um pesadelo (e a montagem mais tarde também!). Apesar de seguir todos os passos, tive de cortar cabos e retirar à força (acabando por partir, mas resolvi isso mais tarde com cola quente, ficou seguro) o encaixe de prensar do cabo da alimentação eléctrica, pois não queria sair nem por nada. Detesto trabalhar assim, mas não tive alternativa, estes osciloscópios não foram realmente feitos para serem desmontados muitas vezes, são de uma gama de entrada e a manutenção mais frequente, tal como a calibragem, pode ser feita sem desmontar as placas. Mas como eu queria substituir todos os condensadores electrolíticos...

No fim lá consegui e também consegui voltar a montar tudo como deve ser. E ao ligar, funcionou à primeira. Fiz toda uma série de testes e funciona impecavelmente e aparenta estar bem calibrado (se bem que para ter a certeza absoluta precisaria de um segundo osciloscópio de referência). Tem trabalhado regularmente e não deu nenhum problema até agora. Como está mesmo muito bem conservado e veio na caixa de alumínio original com todos os acessórios originais (manuais e pontas de prova), estou muito contente com o que arranjei.

Junto algumas fotos do resultado (interior, já com os novos condensadores) e em funcionamento, recorrendo a um gerador de funções DDR da China (por acaso são bem porreiros, pelo menos para o preço ridicularmente baixo!) para ter sinais variados.


Reparei no entanto em duas pequeninas coisas que gostava de ouvir opiniões:

- Quando coloco a base de tempo em "ms", o traço no ecrã fica muito menos brilhante (ao ponto de ser demasiado fraco quase) do que com "us" como base de tempo. Isso será normal? É só o meu primeiro osciloscópio analógico, não tenho como comparar. O traço está brilhante e forte o suficiente na base de tempo de microsegundos em praticamente todas as configurações, mas se puser em milisegundos, realmente fica bastante fraco, especialmente se ainda usar o "X5" para fazer "zoom". Noto em geral que tenho que regular a intensidade do traço sempre nos 3/4, evitando colocar no máximo, claro, para não arriscar danos a longo prazo. Será que é uma falta de luminosidade / potência generalizada? E se sim, porquê? Alguém sabe? Ele está estável e funciona bem e não aquece muito.

- O transformador é bastante barulhento. Pesquisei na net e parece que os transformadores muito antigos podem ficar com as lâminas meio "soltas", fazendo com que o "buzz" da frequência da rede seja amplificado de forma acústica pela vibração das placas. Suponho que seja mesmo isso, porque não há sinais de consumo de corrente excessiva - não aquece muito e estiver a medir a consumo da rede com um multímetro e corresponde quase exactamente ao valor indicado no service manual. Suponho que seja normal então, certo? Ou poderá mesmo assim haver alguma cena menos perfeita, eventualmente ligada à questão da intensidade do traço indicada acima?


Obrigado desde já por opiniões, comentários e espero que seja interessante para alguns de vocês.

Restauração:
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Em funcionamento:

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A tal diferença de intensidade do traço com us e ms:

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Parece-me que não deveria haver uma diferença tão grande de luminosidade ao alterar a escala.
Já viste no service manual se não existe algum potenciómetro na placa que ajuste isso?

Quanto ao barulho, os transformadores antigos podem fazer de facto algum barulho.
Vê se está bem fixo para não vibrar, ou podes ate por umas anilhas de borracha nos pontos de fixação para não propagar o ruído.

Já agora porque decidiste comprar esse osciloscópio analógico?
Hoje em dia um osciloscópio de 15 MHz, analógico, e grande não faz muito sentido comparando com as funcionalidades e características de um osciloscópio digital.
 
diogoc, obrigado pelas ideias, mas de facto a única forma em que a intensidade do feixe é regulada é por meio daquele botão "INTENS" que tem um veio comprido que vai directamente actuar num potenciómetro na placa da secção de alimentação que está ligado ao tubo CRT, ou seja, ao circuito de alta voltagem. A diferença de luminosidade parece-me ser resultado de diferentes timings e taxas de repetição do ponto de luz para formar a imagem (ou seja, a forma de onda), porque nota-se claramente que quanto mais reduzida a taxa de renovação da imagem da forma de onda no ecrã, ou seja, menos pontos tiverem que ser varridos por segundo no tubo CRT, mais brilhante é. E até faz sentido, mas tal provavelmente quer dizer que a luminosidade GERAL do feixe estará abaixo do que deveria estar. O facto do tal botão INTENS ter que estar sempre quase no máximo é outro indicador para isso. Mas é aí que não consigo perceber porquê. Será simplesmente resultado da idade? Ou haverá alguma coisa que não está totalmente bem e não a consigo descobrir? Porque de resto parece estar tudo impecável!

A ideia das borrachas para o transformador é boa, talvez um dia com tempo tente fazer isso (como já referi, é um pesadelo desmontar certas partes do osciloscópio).

Quanto aos motivos de compra, são dois: primeiro, o gosto pelo analógico e pela restauração de tecnologia "retro", depois o valor de compra, mesmo usado, de um osciloscópio digital neste momento estava fora do meu orçamento. Além de que sempre quis ter um, há anos, quando os analógicos ainda eram "standard", quase :)

(Também tenho cá em casa componentes de HiFi antigas, CD players, tuners, sei lá, são vários, de marcas boas, alguns restaurados, outros modificados, é um gosto que tenho pelas cenas antigas... uma coisa é certa, a qualidade muitas vezes é superior, porque eram construídos com outro cuidado e outra dedicação, em números muito mais reduzidos...)
 
Eu estava meio certo, ou seja, parece definitivamente estar relacionado com a intensidade geral da imagem, porque encontrei isto no Wikipedia sobre o funcionamento do osciloscópio analógico, relativamente á intensidade da imagem:

Intensity control
This adjusts trace brightness. Slow traces on CRT oscilloscopes need less, and fast ones, especially if not often repeated, require more brightness. On flat panels, however, trace brightness is essentially independent of sweep speed, because the internal signal processing effectively synthesizes the display from the digitized data, or from the kitty picture.

E encontrei agora num forum um tópico onde isso é melhor explicado:

A more likely problem is that the repetition rate of the test signal is low. Your 1 kHz test signal should be bright at 50uS/div and slower but progressively dimmer at faster sweep speeds. The x10 horizontal magnification function will also dim the trace to 1/10th of its normal brightness.

Parece portanto que uma diferença bem visível com as diferentes configurações é normal. Resta saber se a luminosidade geral está boa ou não, tenho alguma dificuldade em avaliar isso...
 
Última edição:
A luminusidade parece-me boa, quanto a alteração de luminusidade conforme se muda de ms/micro/nano, isso é normal

Não te esqueças que o traço é projetado num TRC, e como tal com o tempo de trabalho/brilho, tem tendencia a diminuir, eu tenho 2 osciloscópios analogicos e um digital, ambos a funcionar bem, mas um deles tive que rejuvenescer o traço, felizmente consegui, mas nem sempre funciona.

Atualmente uso o digital que é de 200 mega e tem informações que não tenho nos analógicos e que não consigo prescindir delas, os analógicos são para uma emergencia.

Elogio a tua presistencia em recuperar o velhinho analógico.
 
afm, obrigado pelo feedback, era isto que precisava, pois não tinha como avaliar se está dentro do normal ou não, pois como já referi é o primeiro osciloscópio analógico que tenho. Assim já sei que não me preciso de preocupar e posso mas é concentrar em usá-lo para aquilo que o comprei e que é destinado: medir e tornar visível sinais, no meu caso sobretudo para facilitar reparações mas também para projectos.
 
Eu usei os analogicos durante anos e serviram perfeitamente para o meu trabalho.

Quanto ao brilho, não te esqueças que quanto mais horas tiveres com o brilho no maximo, mas depressa o brilho vai diminuir, eu nos meus quando não estava a usar reduzia o brilho ao minimo, para eles durarem mais, mas mesmo assim duraram anos e continuam com bom brilho.

O que recuperei o brilho, foi com um aparelho chamado "Rejuvenecedor de TRC" que era o que usava para "limpar os cinescopios" que as vezes ainda uso, é verdade ainda se repara televisores antigos, os chamados "CRT´s"

Boas reparações!
 
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