Real_Saturn
Power Member
Se o selo IGAC é uma coisa desvantajosa, porque é que há pessoas que querem comprar jogos que venham com selo IGAC? Supostamente não seria melhor comprar sem?
Muito simples: porque está na Lei e porque os comerciantes são obrigados a comercializar jogos contendo esse selo, fazendo com que as pessoas que comprem jogos tenham de o guardar para efeitos de garantia e de revenda. Por outras palavras, é uma lavagem cerebral e uma grande parte das pessoas, por ignorância ou obrigação, passou a aceitar o selo como "algo essencial, obrigatório, que tem de estar presente nos jogos senão ameaçam apresentar queixa". O que é fantástico, quando entro numa loja e vejo algum cliente a embirrar com os funcionários pela ausência do selo ou a defender que devia vir colado na capa do jogo. Gostam de se auto-flagelar, só pode.
O selo do IGAC é demasiado velho e tem demasiados inconvenientes para haver qualquer ser vivo que esteja a favor dele. Como é que um selo supostamente anti pirataria tem mais valor do que os hologramas de autenticação e das informações oficiais nas capas oficiais, para os distribuidores terem a lata de os colarem sobre eles na era da Playstation 2 e afins? O selo da IGAC só serve para três coisas:
1. Sustentar uns quantos parasitas do estado que trabalham para uma organização governamental através de impostos absurdos e que tentam ser mais importantes que as entidades europeias da classificação etária
2. Lixar o mercado de importação europeu e privilegiar alguns importadores nacionais que monopolizam o mercado
3. F0#3r as capas dos jogos e das edições especiais com um autocolante foleiro e sem estética nenhuma e fazendo com que uma parte dos distribuidores abram os jogos e tornem a selá-los, ou seja, que não os vendam oficialmente selados com os celofanes oficiais. Isso obviamente abre porta a burlas que são praticadas em algumas lojas e que voltam a selar os jogos que já foram comprados e devolvidos ou até jogados pelos funcionários das lojas (sim, isso acontece). Mas como são os distribuidores que são obrigados a colar o selo (a IGAC só é responsável por os emitir), a culpa disso nunca é da IGAC. Resultado: uns colam (e bem) por cima do celofane oficial sem abrir os jogos, outros retiram o celofane oficial e abrem os jogos TODOS para o meterem por cima da caixa de plástico (juntamente com mais autocolantes patéticos), e os mais otários abrem os jogos e colam-nos por cima directamente na capa de papel ou nas caixas de cartão das edições especiais, que ficam estragadas para todo o sempre (falo da Microsoft, os mais acéfalos a colar o selo da IGAC... só de pensar na edição portuguesa de aniversário do Halo para a 360 e a linda slipcase arruinada com o selo colado por cima do masterchief na parte da frente da capa...)
Basicamente, a autenticação de um jogo para emissão do selo da IGAC é um processo estupidamente burocrático e que tem custos: cada título submetido para registo na IGAC tinha custos de quase 40 euros, e os distribuidores de cá, que monopolizavam o mercado porque importavam centenas ou milhares de cópias de um só jogo, tinham muito mais facilidade em autenticar o selo do que o mero comerciante da esquina que queria abrir uma loja de jogos a preço mais reduzido e mandava vir os jogos mais baratos do UK devido exclusivamente ao câmbio ser diferente (libras, que sofreram uma desvalorização de quase 70% nos últimos 10 anos face ao euro), para vender apenas 5 ou 6 cópias de certos jogos, cujo lucro não pagava nem os 37 euros pagos na autenticação de cada um. Associar isto ao tempo que a IGAC demora a responder aos pedidos de um importador de pequena dimensão ou logista, arrasa qualquer capacidade de concorrência com os monopólios do mercado: http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=601713
Depois há mais uns factos curiosos:
- No passado chegou a ser um dos motivos no atraso dos lançamentos de jogos em Portugal.
- O selo foi criado para cassetes de VHS. Em plena época do Bluray ainda continuamos na mesma! Houve intenção de mudar o design dos selos mas nunca se chegou a fazer
- Trbunais e advogados já colocaram a autenticidade dos selos em causa várias vezes: http://acapor.pt/2012/05/tribunal-d...loca-em-causa-autenticidade-dos-selos-da-igac
- Esta lei que obriga ao selo da IGAC não tem nada a ver com a união europeia e só há um ou dois países na Europa que fazem o mesmo salvo erro, sendo que um deles é a Itália e o selo deles é muito mais reservado que o nosso
- A IGAC já perdeu casos em tribunal contra lojas que vendiam títulos usados sem selo: http://www.verbojuridico.com/jurisp/1instancia/tjalmada_videojogosusados.pdf
- É um processo extremamente burocrático, vejam o que é exigido se conseguirem abrir os documentos: http://www.igac.pt/pagina.aspx?js=0&codigono=5792AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
- Existem rumores não confirmados que um dos admins/funcionários da IGAC ocupa(va) um cargo na Ecofilmes, actual Ecoplay. Esta notícia foi-me transmitida por um daqueles vips que recebiam os press kits dos jogos e que trabalhava para o maior grupod e lojas de videojogos do Mundo que já fechou as suas portas em Portugal.
- Algumas lojas encontraram maneiras de desviar do selo, como a *****, mas quando comprarem a essa empresa podem receber tanto versões portuguesas como versões inglesas, australianas ou até gregas, além de que essa loja está sediada em Inglaterra e em caso de situação irregular através de compra no site terão muito mais dificuldade em reclamar, até porque a entidade competente a quem poderão eventualmente reclamar (o CEP) é outro daqueles organismos que não serve para nada e só resta mesmo a DECO.
- Apesar dos jogos não serem aceites oficialmente como cultura, a IGAC viu neles uma fonte de rendimento devido ao sucesso que começaram a fazer e por isso, porque não abrangi-los também? Contrafacção e pirataria são ilegais e as autoridades tratam disso, afinal de contas não existe nenhum "selo da IGAC" para tantas outras coisas à venda nas lojas que também são alvo de contrafacção. Como tal, a IGAC decidiu inclui-los no seu campo legal - afinal de contas, televisão e cinema (diga-se audiovisuais) prendem-se com a cultura e os jogos acabam por cair nesse campo de forma indirecta já que são jogados num ecrã ou televisão. Por isso, os videojogos são regulados por uma "entidade cultural" mas não são considerados cultura nem jamais pagaram o "iva correspondente à cultura". É giro, não é?
- Chegou a acontecer o ridículo de serem colocados selos da IGAC nas caixas de cereais que há uns anos atrás ofereciam CDs ou DVDs interactivos.
-Para além disso, o selo da IGAC não dá garantias a ninguém de que o jogo que está a comprar é a versão destinada pelos fabricantes e produtores oficiais ao mercado Português, porque lojas como Worten, Game e tantas outras vendem ou venderam títulos australianos, americanos e ingleses que eram importados. Por exemplo, o Mário e Sonic nos Jogos Olímpicos foi vendido com a capa totalmente em Português mas haviam cópias nessas lojas com o título em inglês. E tantos outros casos aconteceram, que até jogos de itália e americanos estavam à venda cá com selo da IGAC. O selo servia para identificar a versão/região? Não, claro que não.
- O rigor com que a IGAC trabalha já foi colocada em causa algumas vezes, mas a situação mais caricata foi esta: http://videos.sapo.pt/641HznvJ959TbSrssmjo
- Se não foi actualizada ainda, acho que a lei onde está isso dos selos é a Portaria n.º 58/98, de 6 de Fevereiro
- O site da IGAC está de tal maneira actualizado como praticamente todos os sites de organismos públicos, que a lista de próximos lançamentos morreu no ano passado: http://www.igac.pt/ms/1/default.aspx?pl=&id=5520&acess=0
Do ponto de vista do consumidor, quais são os benefícios do selo? Só consigo encontrar mesmo um: garantir que estão a comprar um jogo original, independentemente da sua origem. No entanto, essa "boa intenção" esconde outras intenções prejudiciais para o consumidor e só mesmo uma pessoa muito ignorante é que não seria capaz de identificar uma cópia pirata, até porque não é em qualquer local (de todo!) que elas se encontram à venda. "Ah e tal, tem de ter selo por causa da Garantia ou por causa da revenda". Desculpa esfarrapada... se assim fosse, tantas outras coisas que encontramos à venda nas lojas não estariam isentas de algo semelhante, mas não só estão como não faria sentido algum não estarem. Basta mesmo pensar assim: se praticamente mais nenhum país no mundo tem esta parvoice de selo, porque é que Portugal tem? Talvez por sermos peritos a encontrar impostos onde eles não têm motivo de existir e a burocratizar as articulações do dedo mindinho do pé. Não sei quanto ganham os cabecilhas da IGAC, mas se calhar o lucro que o estado recebe com esta treta do selo não justifica assim tanto os gastos anuais com esse pessoal.
Última edição: