Sadino disse:
Eu duvido muito que saibam, já que muitos políticos fazem legislação com base em pareceres de "especialistas" e para a maioria dos políticos penso que a visão sobre a Microsoft é que eles são grandes "especialistas" já que são a "maior empresa do mundo"
Á pouco tempo fui a um seminário e um individuo disse que muitos parlamentares são muito receptivos às suas opiniões porque andam completamente às aranhas em áreas específicas nomeadamente informática.
Sim, tens razão no 1º ponto, eu quando escrevi o que escrevi estava a tentar dizer subtilmente que os políticos provavelmente estão "comprados", ou então foram "convencidos" por esses "especialistas" que esta directiva é boa para a Europa. Mas não te esqueças também que o Deutsche Bank Research, a PricewaterhouseCoopers e o Kiel Institute for World Economics já vieram a público dizer que a directiva poderia ter um impacto negativo na Europa. E estas investigações não lhes passam ao lado, tanto que são institutos com muito prestígio a nível mundial. E não acho correcto também comparar os políticos portugueses com os do resto da UE: os lá de fora são MESMO competentes (ou pelo menos, mais do que os nossos) e não fazem as coisas tão à toa como as coisas são feitas em Portugal.
Mas na minha opinião, e vejo muita gente a ler o post do Johnzap e a levar à letra, discordo dele em alguns pontos importantes:
1º - Não vamos pôr a Microsoft como o grande monstro que quer dominar o mundo. Isto vai muito para além da Microsoft. Vejo mais a SCO como o principal obstáculo aos apoiantes do Open Source. E estou contente por ver a IBM a "tolerar" o Open Source, visto ser uma das empresas americanas que mais patentes de software tem. Aliás, a Microsoft até usa um software open source, o algoritmo de compressão Gzip, utilizado em ferramentas como o Winzip, Winrar, etc, e integrado no "Compressed Folder Feature" do Windows XP.
A SCO é que me parece mais prejudicada, do seu ponto de vista e do ponto de vista da legislação americana, pois o kernel do Linux (o kernel é patenteado nos U.S.A.) infringe 283 - sim, leram bem, 283 - patentes de software, e penso que muitas delas pertencem à SCO.
2º - A directiva começou em 2002, quando a Arlene McCarthy (Inglesa) enviou um relatório para a Comissão Europeia a recomendar as patentes de sofwtare (na altura é verdade que ainda não estava lá o Durão Barroso). Ora, segundo a Agenda de Lisboa, a I&D é uma parte crucial para o desenvolvimento da UE, e na área do software a UE está em grande desvantagem relativamente um país: os U.S.A.. Sim, a directiva não foi escrita com o intuito de andar a beneficiar as empresas americanas de software, antes pelo contrário.
O que se passa é o seguinte: como sabem, os U.S.A. tem um sistema de patentes de software que permite (entre muitas coisas estúpidas e sem sentido) uma pessoa ou empresa patentear uma ideia, um algoritmo inovador. Ou seja, para além de se ter o copyright do software inteiro (que é o modelo da Europa) pode-se proteger a ideia por detrás do programa, ou seja, a pessoa/empresa é dona dessa ideia que desenvolveu, e se alguém quiser fazer um software que use esse algoritmo, não o pode fazer livremente. Tem que pagar os direitos de autor à pessoa que criou esse algoritmo. Ora, isto teoricamente beneficia as pessoas/empresas que inventam e inovam na área do software, permitindo que as pessoas protejam as suas criações e ganhem com isso, suportando assim, com o capital ganho, novas pesquisas para trazer novos algoritmos e ideias inovadoras para novos produtos. É assim que funciona o modelo americano: torna feroz a competitividade entre as empresas em termos de I&D e impulsiona o progresso. A nível económico, o que depois acontece é que a gestão do mercado por parte das empresas que conseguem inovar faz com que estas, para crescerem e ficarem empresas gigantes, comecem com o dinheiro ganho à pala de patentes e venda de produtos de software, a comprar as pequenas empresas e/ou as suas patentes, se estas as quiserem vender. Isto deu azo a que existam empresas gigantes, cheias de capital ($$$$$$), nos U.S.A., e impulsiona-os a nível mundial, pois estas empresas expandem-se para o resto do mundo.
E aqui é que a directiva entra: estas empresas americanas cilindram as nossas, como cilindraram as pequenas no seu próprio país, porque as nossas não apostam tanto em I&D. Porquê? Bom, segundo a Arlene McCarthy, não o fazem por falta de capital, pois podem inovar, mas não podendo patentear as ideias inovadoras que trazem ao mercado e assim adquirir capital para poder continuar a sua I&D. A concorrência pode, sem grandes custos de capital, apresentar um produto semelhante, desde que não viole as leis do copyright em vigor. Isto não torna o mercado Europeu competitivo como é o americano, e impossibilita o aparecimento de várias empresas gigantes, que são o motor da economia americana. A protecção de conceitos de algoritmos faz com que uma empresa, se quer lançar um software que outra empresa já tenha, mas que tem uma patente registada do conceito que utiliza, só tem duas soluções: ou paga à outra os direitos da patente, dando dinheiro à concorrência, o que não lhe é nada bom, ou então investe na sua Investigação & Desenvolvimento e tenta criar um novo conceito para o produto que quer lançar. É este o motor do progresso que se quer utilizar - a competição entre empresas faz com que estas se desenvolvam e se esforcem para inovar e deitar a concorrência abaixo. E sim, muitas vão abaixo na luta, muitas Pequenas e Médias empresas cairão, mas no seu lugar vão se erguer outras, que já foram PME's, mas que, através da competição e da sua gestão de patentes, conseguiram prevalecer e fortalecer.
A directiva quer fazer isso: criar empresas deste género, mas europeias, para poder fazer frente às do outro lado do Atlântico, como por exemplo a SAP alemã, principal concorrente da ORACLE. Isto impulsionaria a economia europeia como fez com a americana, porque se se continuar com um mercado que não é competitivo, os americanos continuarão a ganhar-nos neste ramo, e o atraso europeu só vai continuar a aumentar, e não a diminuir, e a economia americana continuará a crescer acima da europeia.
É nisto que assenta a directiva e os seus apoiantes das empresas europeias, quanto aos políticos (possivelmente corruptos) não sei se todos são todos assim tão bem intencionados. E isto porquê? Eu acima referi que várias entidades europeias diziam que as patentes para a Europa podiam prejudicar a própria UE. É que o problema agora reside no facto de as empresas americanas já estarem no nosso mercado, podendo agora também mexer-se agora num tipo de mercado que já conhecem e não terão o Open Source a "fazer-lhes concorrência" (embora a directiva já tenha sofrido várias alterações a pedido do Parlamento Europeu, e o modelo de patentes Europeu, se for para a frente, que é o mais provável, será diferente do americano).
Portanto, resta agora deitar as nossas esperanças na astúcia dos empresários europeus (que existe, a SAP é um exemplo) e na criatividade dos engenheiros europeus (que existe, digam-no o Linus Torvalds (Linux), Michael Widenius (MySQL) e Rasmus Lerdorf (PHP)) para conseguirem competir e vencer a supremacia americana.
Sadino disse:
Pelo que tenho lido poderão acontecer coisas tão ridículas como
isto
É verdade que um modelo de patentes semelhante (não é exactamente igual) ao dos U.S.A. pode dar azo a essas situações, e outras bem mais ridículas como se lê de vez em quando (existe uma patente de software nos U.S.A. que diz que tem um algoritmo de compressão de dados capaz de comprimir "random data", algo que muitos peritos estão de acordo que é impossível). Mas não esquecer que a mentalidade europeia também é diferente da americana. Duvido que o nº de casos de patentes "ambíguas" ou "sem sentido" se propague como propagou nos U.S.A., pois acredito que os europeus são muito mais sensatos e moderados que os americanos.
E mais, as patentes são redigidas pelos advogados das empresas (que ganham salários exurbitantes, pois são os melhores advogados e só as grandes empresas é que os podem contractar), e uma patente só entra na EPO (European Patent Office) depois de um examinador (funcionário do estado - qualificações e ordenado bastante reduzidos) examinar a patente e aprová-la. Isto, obviamente, também da azo a 2 situações: o examinador, por ser um profissional bastante inferior aos advogados comerciais, pode muito bem ser ludibriado pelos textos redigidos e pelo paleio dos advogados ou, se isto não resultar, facilmente pode também ser "persuadido financeiramente". Situações que dão origem a grandes injustiças e revoltas por parte de quem é prejudicado com isto.
E ainda mais, o Open Source já é visto por muita gente como um motor para a diversificação do software, e também da inovação, dando oportunidade a muita gente e pequenas empresas de ter acesso aos algoritmos e às ideias destes. O Software Open Source é menos vulnerável a virús e muito mais adaptável e versátil a situações, sistemas e hardware diferentes.
Só peca pelo suporte técnico, que não é tão acessível como no software empresarial, e peca grandemente devido ao facto de não dinamizar a economia no sentido de gerar grandes empresas. Óbvio que se todo o Mundo utilizasse Open Source seria bem melhor. Mas visto que isso não acontece, estamos numa situação difícil. Entre as empresas de OpenSource, algumas cairão, e injustiças acontecerão para que esta directiva vá para a frente, mas esta tem um propósito diferente daquilo que muita gente diz.
Só o futuro dirá se a UE vai beneficiar das patentes de software.
PS: Eu de facto mudei de opinião desde os meus últimos posts nesta thread, eu depois vou tentar reunir as notícias e crónicas em que me basiei para escrever este texto e posto também aqui.
PS-2:Se chegas-te até aqui, acho que parabéns não chega, faço-te uma vénia
eu provavelmente se me deparasse com isto não tinha coragem de ler...