Não disseste qualquer barbaridade. Podemos é detalhar um pouco melhor a questão.
Este post será um pouco grande mas tentarei explicar-me o melhor possível.
Em primeiro lugar quero separar o bitrate (quantidade de informação por unidade de tempo) no vídeo da resolução. Embora usualmente maior resolução venha acompanhada de maior bitrate, não é forçoso que assim seja. Posso aqui fazer um paralelismo com um carro: os carros mais caros costumam ter mais potência mas, por exemplo, um Seat Leon Cupra é mais potente (e mais leve) que um BMW 530d, embora só alguém muito irreverente possa sugerir que o Leon é melhor.
Separando a resolução, sem dúvida que maior resolução nunca será pior (presumindo que desprezamos diferenças de preço na compra de BluRay 4k ou custos de armazenamento de ficheiros descarregados da internet). O que pode acontecer, como já todos sabemos, é essa resolução superior ser irrelevante a partir de determinada distância. Sobre este ponto não me alongarei porque já há muitos posts a ele dedicados.
Passemos agora à questão de bitrate. Aqui é justo dizer que, sendo tudo o resto igual, quanto mais melhor. Presumindo que se usa o mesmo tipo de compressão (xvid, h264, h265, etc.) e as mesmas opções no encode, quanto maior o bitrate, melhor. No entanto, se usarmos um bitrate pouco maior para um conteúdo com muito maior resolução, as condições já não poderão ser consideradas iguais e aí teremos perdas. Na prática, o que é comum é que quem faz encodes de maiores resoluções também aumenta muito o bitrate, evitando o problema.
No entanto, para uma resolução quatro vezes maior, se quisermos manter a qualidade, não é necessário um bitrate quatro vezes superior. Na realidade há ganhos, que podemos chamar de escala, onde um maior número de pixels também permitem maior eficiência no encode. Se quiseres um exemplo exagerado, pensa num fotograma com 1000 pixels rigorosamente iguais. A compactação deste fotograma será mais eficiente num conteúdo semelhante no quádruplo da resolução porque terá 4000 pixels rigorosamente iguais. Na prática a questão é mais complexa mas uma análise aprofundada ao standard HVEC (ou outros) fica fora do âmbito deste tópico e obrigar-me-ia a ir ler (e reler) muita coisa para não correr o risco de enganar quem me lê.
Em termos práticos, os fornecedores de streaming (como Netflix, Vodafone, meo, etc.) tendem a usar bitrates significativamente maiores nas emissões 4k, oferecendo aí ganhos não relacionados com a resolução (além dos inerentes à resolução para quem está perto da televisão). Por outro lado, se a fonte usada for BluRay (4k ou não) ou ficheiros descarregados da internet, a resolução ficará mesmo separada do bitrate porque estes ficheiros são preparados com uma qualidade-alvo sem preocupações com a capacidade da ligação de rede. Um BluRay UHD pode chegar a bitrates superiores a 100 Mbps (até 50 Mbps para FHD), enquanto Netflix 4k pede aos utilizadores apenas 25 Mbps (e apenas 5 Mbps para HD). Se esta diferença é relevante ou não, dependerá da exigência de cada um. Uma coisa, porém, é certa: não são iguais. Um utilizador que queira usar predominantemente Netflix, deve apostar em 4k (seja na televisão ou simplesmente num media player que peça o stream de 4k), não por causa da resolução mas para fugir ao bitrate francamente baixo de 5 Mbps. Cada um saberá a sua exigência mas eu evito encodes com bitrate inferior a 10 Mbps (e se possível até tento obter bastante mais).
Além disto há factores como o som, cuja qualidade também afetará o tamanho dos ficheiros e a largura de banda necessária no streaming, e HDR que, embora esteja incluído no bitrate por ser informação adicional que também tem de ser codificada, só existe em 4k porque o standard não foi definido para FHD (tecnicamente poderia ter sido mas não foi e portanto já lá vai).
Espero ter ajudado. Se não fui claro, tentarei explicar-me melhor para a próxima.
Nota para os mais picuinhas: tudo o que eu aqui escrevi poderia ser mais detalhado; todas as opiniões são minhas e não representam opiniões de outras pessoas; todos os dados são aproximados; todas as comparações consideram outros fatores como constantes; não sou advogado; não trabalho para o Governo (nunca se sabe, pode ser relevante dizer isto); não sou o criador de qualquer standard vídeo; etc.