Como calcular "matematicamente" a utilidade de uma objectiva

strobe

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Mais tarde ou mais cedo é necessário decidir:
- compro a objectiva A ou objectiva B?
- levo a objectiva A ou objectiva B?

(onde A e B cobrem distâncias focais diferentes e/ou têm aberturas máximas diferentes)

Para isso, é necessário ter uma ideia de qual das duas objectivas tem "maior utilidade".

A utilidade:

- não é o mesmo que "qualidade", embora seja influenciada por esta
- varia de fotógrafo para fotógrafo, embora existam valores típicos que representam algumas classes de fotógrafos.
- varia de trabalho para trabalho.
- é medida em número de fotos, percentagem do total de fotos tiradas (ou que se espera tirar) ou no valor monetário (ou sentimental) que essas fotos representam, dependendo do que for mais importante para o fotógrafo. Naturalmente que só contam as fotos tidas como "boas".

À hora de escolher qual objectiva comprar, interessa saber qual a utilidade "para o fotógrafo" (em função de todos os trabalhos que este pretende fazer). À hora de escolher qual a objectiva (ou objectivas) levar no saco, interessa sobretudo a utilidade "para o trabalho" em causa.

A utilidade de uma objectiva é dada pela soma das utilidades (para o trabalho e para o fotógrafo) de todas as combinações "distâncias focal - abertura" que essa objectiva suporta.

Esta fórmula pode parecer muito complicada (ou pelo menos muito trabalhosa) de calcular. Se a levar-mos à letra, de facto é complicada de calcular. Mas não é necessário calcular todas as parcelas "distância focal - abertura", mas apenas algumas de referência


Exemplo: 85/1.4

Esta objectiva é especializada para retratos e tem um excelente Bokeh. Embora a sua abertura mínima seja f/16 a sua utilidade a essa abertura é zero ou muito próxima de zero. Mesmo entre f/2.8 a f/5.6 a sua utilidade será baixa. Tipicamente, 80% da sua utilidade será a f/2 ou f/2.8, e o resto entre f/1.4 e f/1.8. Agora, para um fotógrafo amador que tira um retrato muito de vez em quanto, é óbvio que a utilidade desta objectiva estará muito próxima do zero. Pelo contrário, muitos retratistas fazem 99% do seu trabalho só com esta objectiva.

Exemplo: 17-50/2.8

Esta objectiva é o típico "zoom médio". Note-se que nos zooms, não vale pena fazer as contas a cada distância focal, mas apenas algumas "de referência" nas que se incluem sempre o seu mínimo e o seu máximo. Nesta objectiva, os referências são: 17mm, 20mm, 24mm, 35mm e 50mm (os extremos, mais distâncias que podem ser cobertas por objectivas sem zoom ou "primes"). Em termos de distâncias, tipicamente mais de 50% das fotos vão ser tiradas a 35mm ou menos, muitas delas no batente dos 17mm, mas a posição do "pico de utilidade" depende muito do fotógrafo. As restantes fotos, serão quase todas tiradas no batente dos 50mm (outro pico de utilidade). Todas as distâncias dos 17 aos 35mm são mais ou menos úteis, enquanto que nas distâncias dos 36 ao 49 a utilidade é zero ou muito perto disso. Em termos de abertura, o "sweet spot" (lugar onde a qualidade/resolução é máxima) rondará f/4 ou f/5.6, o que torna estas aberturas muito populares se houver luz suficiente. f/2.8 será outra favorita, para o caso de a luz ser pouca ou ser necessário encurtar o DoF. Mais uma vez, estes números referem-se a uma utilização "típica", onde a objectiva é usada para o que foi concebida. Para um fotógrafo que não goste de ter pouco DoF esta lente será menos útil, pois as aberturas grandes terão uma utilidade próxima do zero.

Exemplo: 50/1.8

Quando comparada com a Tamron 17-50/2.8, esta lente oferece apenas mais duas combinações de referência: 50mm a f/1.8 (o máximo que dá) e 50mm a f/2 (meio stop mais do que 2.8), e perde todas as restantes. Por isso, comparar as duas é questão de contar quantas fotos vão ser tiradas nestas combinações de distância focal e abertura. Mais uma vez, aqui entra muito o estilo do fotógrafo. Pode haver um que faça 80% do seu trabalho a 50mm f/1.8 e f/2. Nesse caso, a utilidade da 50/1.8 é enorme. Mas para o "fotógrafo típico" 50mm a f/2.8 é suficiente e a 17-50/2.8 ganha em muitos outros aspectos.
 
Não sabia que o sweet spot duma 17-50/2.8 era f/4-5.6. Quer isto dizer que obtenho a mesma profundidade de campo, como obtería a f11?

"Sweet spot" não tem nada a ver com profundidade de campo. "Sweet spot" tem a ver com a resolução máxima da lente e tem um pico numa determinada abertura. Acima ou abaixo dessa abertura, a resolução piora. Pelo contrário, a profundidade de campo é a distância que se considera "em foco" e aumenta sempre à media que abertura diminui. A aberturas menores que a de sweet spot, há mais DoF, mas menos nitidez.

Um erro típico é pensar que usando aberturas muito pequenas (f/11 ou menos) consegue-se mais nitidez. Nada mais errado! Nessas aberturas, existe um efeito físico chamado "difracção da luz" que faz com que se perca nitidez. É por isso que há quem evite usar aberturas muito pequenas e use técnicas como o "focus stacking" para conseguir mais profundidade de campo sem prejudicar a nitidez.
 
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Só para que não fiquem dúvidas, isto acontece com todas as lentes não fiques a pensar que a Tamron é melhor ou pior neste aspecto. Até numa compacta tens um sweet spot, só que geralmente é mais perto da abertura máxima da lente.
 
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Sim, sim, eu já calculava isso :)

Mas explica-me uma coisa: ela vai perdendo nitidez progressivamente, gradualmente (f/8 - "médio", f/11 - "mau", f/16 - "péssimo"), ou mal salte para f/8 a lente já está no seu "pior"?
 
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ela vai perdendo nitidez progressivamente, gradualmente (f/8 - "médio", f/11 - "mau", f/16 - "péssimo"), ou mal salte para f/8 a lente já está no seu "pior"?

É gradual. Em gráficos interactivos como os disponíveis na slrgear e na dpreview, podes ver como se comporta a lente nas diferentes distâncias focais e aberturas.

De qualquer modo, isto já é off-topic.

Como disse logo no início, "utilidade" não é o mesmo que "qualidade", embora esta influencie e primeira. E acrescento que "qualidade" não é apenas "nitidez".
 
Nessas aberturas, existe um efeito físico chamado "difracção da luz" que faz com que se perca nitidez. É por isso que há quem evite usar aberturas muito pequenas e use técnicas como o "focus stacking" para conseguir mais profundidade de campo sem prejudicar a nitidez.
Estive a ver como funciona o focus stacking mas só vejo esta técnica aplicada a macro. O mesmo também funciona em landscape (portanto, ao longe)?

[OFF TOPIC] Curioso como o sweet spot da Carl Zeiss Sonnar T* da R1 segundo todos os meus testes é precisamente a f/10. A difracção só parece começar a acontecer daí para cima.[/OFF TOPIC]
 
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Para um fotógrafo que não goste de ter pouco DoF esta lente será menos útil, pois as aberturas grandes terão uma utilidade próxima do zero.
Não esquecer que as aberturas grandes também podem ter muita influência no desempenho do AF. A utilidade de uma lente, não se resume só a aberturas e focais. Se é ou não estabilizada, se tem ou não focagem ultrasónica, se tem ou não capacidades macro, são coisas que também podem pesar nas decisões, consoante o tipo de lente que é e o tipo de fotografia que se pratica.

O mesmo também funciona em landscape (portanto, ao longe)?
Na típica fotografia de paisagens (focais curtas, aberturas pequenas e foco distante), o DoF é tão grande que não se justifica. Mas sim, funciona.
[OFF TOPIC] Curioso como o sweet spot da Carl Zeiss Sonnar T* da R1 segundo todos os meus testes é precisamente a f/10. A difracção só parece começar a acontecer daí para cima.[/OFF TOPIC]
Sweet spot a F10 é no mínimo estranho e algo que normalmente só acontece com lentes macro. Aliás, a F10 num sensor APS-C de 10Mpx já estás é perto de começar a ter difracção. O que eu vejo muita vez a acontecer é, devido ao curto DoF provocado por aberturas de 5.6 e abaixo, o pessoal falha ligeiramente o ponto de foco e acaba por não atingir a resolução máxima da lente.
 
A utilidade de uma lente, não se resume só a aberturas e focais. Se é ou não estabilizada, se tem ou não focagem ultrasónica, se tem ou não capacidades macro, são coisas que também podem pesar nas decisões, consoante o tipo de lente que é e o tipo de fotografia que se pratica.

Claro que há muitas outras características que ficam de fora desta análise. Mas só com estas duas já há pano para mangas.

Não esquecer que as aberturas grandes também podem ter muita influência no desempenho do AF.

Talvez. O AF é um mistério. Estou convencido que a minha lente de kit (motor ultrassónico, f/3.5 a f/4.5 max) foca mais rápido e certeiro que uma prime 30/1.4 com motor ultrassónico e que uma 17-50/2.8 sem motor, que por sua vez foca mais rápido que uma 17-50/2.8 com motor. Mas isto é tudo um "feeling" sem dados concretos. Se encontrares algo parecido ao DxOmark para o AF, avisa!

Quando vi este post lembrei-me imediatamente do ExposurePlot

Yep. O princípio é o mesmo.

Também já cheguei a programar um script desses.


Também me parece estranho uma objectiva para APS-C ter o sweet spot a f/10. Se calhar é tão má em aberturas maiores que a f/10 é quando ela é menos má! :D
 
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Mas só com estas duas já há pano para mangas.
Escolher equipamento, seja ele qual for, dá sempre pano para mangas. :p

Talvez. O AF é um mistério. Estou convencido que a minha lente de kit (motor ultrassónico, f/3.5 a f/4.5 max) foca mais rápido e certeiro que uma prime 30/1.4 com motor ultrassónico e que uma 17-50/2.8 sem motor, que por sua vez foca mais rápido que uma 17-50/2.8 com motor. Mas isto é tudo um "feeling" sem dados concretos. Se encontrares algo parecido ao DxOmark para o AF, avisa!
Nop, também queria. O que disse é apenas da minha experiência e da teoria que as marcas debitam cá para fora. Em condições de luz complicadas (ex: auditórios), faz diferença ter uma lente com grandes aberturas. Isso, ou todas as lentes que apanhei com aberturas pequenas são fracas a focar, o que também é possível. Mas como sabes também conheço esse caso da Tamron, embora a minha seja relativamente rápida.
 
Escolher equipamento, seja ele qual for, dá sempre pano para mangas. :p

Não acho. "Escolher" propriamente é a parte mais fácil. Até porque se for necessário atira-se a moeda ao ar. O problema está quando as pessoas querem "escolher" sem saber o que querem ou quando querem tudo e mais alguma coisa, o que torna impossível identificar as opções viáveis.

Em condições de luz complicadas (ex: auditórios), faz diferença ter uma lente com grandes aberturas. Isso, ou todas as lentes que apanhei com aberturas pequenas são fracas a focar, o que também é possível.

A 70-200 f/4 L IS não tem propriamente uma grande abertura, mas tenho impressão que ninguém se queixa da sua velocidade de AF. Tu queixaste?
 
Não acho. "Escolher" propriamente é a parte mais fácil. Até porque se for necessário atira-se a moeda ao ar. O problema está quando as pessoas querem "escolher" sem saber o que querem ou quando querem tudo e mais alguma coisa, o que torna impossível identificar as opções viáveis.
Por vezes não é fácil sequer saberes quais são as tuas próprias necessidades enquanto fotógrafo. Daí o recurso às estatísticas que muitos fazem, quer de focais, quer de abertura. Até podes achar que te fazia falta uma tele, mas quando vais a ver, se calhar tiras 40% das fotos a 17mm e apenas 25% a 50mm.

A 70-200 f/4 L IS não tem propriamente uma grande abertura, mas tenho impressão que ninguém se queixa da sua velocidade de AF. Tu queixaste?
Nop. Mas mesmo não sendo uma abertura do outro mundo, já é mais um stop que a maioria das teles no lado tele e um stop a mais que o limite teórico de muitos sistemas de focagem. Está exactamente a meio caminho entre lentes 2.8 e lentes 5.6 (a partir de 2.8 julgo que nem todos os AF tiram partido). E a juntar a isso, mesmo em focais onde a abertura seja semelhante, o USM é bastante rápido (se tiver que andar à pesca, fá-lo em menos tempo que as outras).
No entanto também já usei a 2.8L IS em situações onde, por exemplo, a 55-250IS e a 70-300IS não focam (ou "diz que focam" mas falham redondamente) e é completamente "pin point". Nunca tive a 70-200 F4L IS nas mesmas circunstâncias.
 
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