Acho que é uma questão de saber discernir quando é que uma criança começa a ser mais responsável, a crescer e, portanto, a deixar de ser tão criança, para passar a ter idade para ter algum juízo e capacidade de entender aquilo que é aceitável e o que não o é.
De crianças pequenas é muito difícil esperar-se que tenham aquele cuidado que gostaríamos que se tivesse, da parte de toda gente, com as nossas coisas; são pequenas, sem a capacidade de entender o que são, efectivamente, brinquedos, e o que não o é - logo, acho que até dada altura, compete-nos a nós, adultos e proprietários das coisas que gostamos de ver bem estimadas, controlar estas situações e condicionar o acesso e arrumações do género, de forma a que estejam minimamente acessíveis e susceptíveis a estragos. Eventualmente, qualquer "acidente" será colmatado com muitas cabeçadas na parede, na esperança de esquecer o sucedido, e a certeza de que, de ora em diante, o produto substituto estará muito melhor escondido e protegido, lol...
O problema, na minha opinião, é aquele que já tem vindo a ser expresso aqui, nas situações acima mencionadas, quando estas crianças começam a deixar de ser crianças que não percebem para passarem a ser crianças que não querem perceber, frequentemente por culpa dos pais, que não os educam nem lhes incutem valores de estima, preservação e cuidados que devem ser tidos com os pertences pessoais e, mais importante ainda, com os pertences alheios...
Eu também não tenho filhos - para já, pelo menos - mas tenho as experiências relativas aos meus primos (agora com 5 e 6 anos de idade) e, mais recentemente, com o sobrinho da minha namorada (com 18 meses, sensivelmente). Logo à partida, tenho noção de que são situações bem diferentes, pelas idades que os separam, e por vezes caio no erro de os comparar indiferenciadamente, quanto aos comportamentos tomados nestas situações; mas, independentemente disso, tanto de um lado como do outro testemunho situações que, com franqueza, me deixam perfeitamente aterrorizado...
No caso dos meus primos, sempre foram muito mais "estragadões" do que eu fora, a julgar pelo que me dizem pais e avó - ao que parece, eu sempre fui um menino muito cuidadoso e regradinho (lol). Mesmo hoje em dia, em relação aos meus primos, numa altura em que o mais velho já tem, desde o seu mais recente aniversário, a sua própria N3DS, não tenho à vontade para os deixar, quer a um, quer a outro, sozinhos no meu quarto; pois é notório o paralelismo entre os comportamentos deles, mais violentos, com os brinquedos e, infelizmente, os "não-brinquedos", e o à-vontade e displicência com que os meus tios os deixam "brincar", em casa deles, com tudo o que lhes apareça à frente e deitem a mão...
Já no caso do "piqueno" - sobrinho da minha namorada - apesar de ser bem mais novinho e sem tanta capacidade de entendimento do correspondente, também este, por vezes, pega nos mais variados comandos, telemóveis, teclados, etc, e toca de atirar ao chão, bater nos móveis, ou enveredar pelas mais variadas artes da bricolage, simplesmente substituindo as ferramentas adequadas pelos gadgets que estejam mais à mão... E custa-me muito ver estas situações a desenvolverem-se à minha frente, principalmente quando outros adultos acabam por achar piada, ou reagirem, como já aqui disseram, de forma super natural e sem qualquer reserva, entendendo, suponho, que criança é criança, e tem que brincar e partir - ainda que, muitas vezes, não seja tão criança quanto isso.
Seja como for, o pior é quando estas situações se encetam com miúdos com os quais não temos, nem com os pais, à-vontade suficiente para dizer que não, ou dar as ditas "boas lambadas", e temos que, praticamente, assistir impavidamente (ainda que a arder por dentro) e em câmara lenta (lembro-me sempre daquela cena tão ubíqua do "Dexter's Laboratory" - "Nooo, Deedee, nooooo!" *salta numa tentativa infrutífera de apanhar a sua mais recente criação que, inevitavelmente, se parte ao cair no chão*, lol) ao desenrolar do desastre...
Em suma, eu sempre brinquei e nunca tive necessidade de partir para me sentir satisfeito ao brincar; sempre estimei as minhas coisas e, particularmente, as dos outros; e, o mais importante de tudo, os meus pais sempre me deram acesso a tudo, a seu tempo e oportunidade, à medida que ia tendo capacidade para lidar com aquilo que me era apresentado - nunca senti, desde que me lembro, que existissem coisas que me estivessem invariavelmente restritas, pois aquilo em que em não devia mexer apenas me era mostrado quando se julgasse que ia saber lidar com isso, cuidadosamente e respeitando as regras.
Desde cedo a responsabilidade repousa do lado dos pais, e devem ser estes a incutir nos miúdos os valores necessários para saber lidar com as coisas, sem partir nem estragar, a partir do momento em que as crianças se saibam aperceber do que devem e não devem fazer. Deixo, então um grande obrigado aos meus pais, por me terem educado de forma a ser, hoje, um picuinhas super minuncioso, cuidadoso e responsável... x)
Cumprimentos!