Aqui discordo. Não são obvias. Houve muitos fabricantes que tiveram tempo mais que suficiente para introduzir estes features, e ninguém o fez. Player com muito mais tempo de mercado como a Microsoft, HTC, Motorola, Samsung, ninguém as introduziu. Acho que muitas pessoas não têm consciencia do impacto do tap to zoom na navegação web.
(nos restantes pontos estamos de acordo, ou não vale a pena grande discussão. Este para mim é o essencial, pelas implicações que pode ter).
Deixando as design patents de lado, neste julgamente a Apple apresentou 3 utility patents:
1. Bounceback:
http://www.google.com/patents?id=n7WxAAAAEBAJ
2. Pinch to zoom:
http://www.google.com/patents/about?id=2MbdAAAAEBAJ&dq=7,844,915
3. Tap to zoom:
http://www.google.com/patents/US7864163
Relativamente ao bounceback, a minha opinião é que é algo trivial, e tenho sérias dúvidas que mereça ser patenteado, mas também não me faz muita comichão. É algo maioritariamente estético e não tem influência prática, tirando o efeito de ser giro. Dou de barato que só a Apple é que possa utilizar isso (mas isso não cobre alternativas a esse efeito, como por exemplo o que está presente no ICS).
As outras duas fazem-me muita confusão, porque são demasiado óbvias no contexto em que são aplicadas. Num écran capacitativo, com capacidade multitouch, estas são formas óbvias de fazer zoom e por isso não entendo como podem ser patenteadas (monopolizadas por uma empresa).
A questão de porque é que outro player não as patenteou primeiro a meu ver é totalmente acessória, e não passível de ser decidida com base em factos, mas a minha opinião é que é uma questão cultural e histórica: A Apple sentiu-se "roubada" pela Microsoft nos anos 80 (sem razão a meu ver, já que ambas copiaram o PARC - como side-note ver a resposta do bill gate aqui
http://folklore.org/StoryView.py?pr...ll Gates&sortOrder=Sort by Date&detail=medium) e adquiriu uma cultura relativamente a patentes que normalmente está reservada para patent-trolls - patentear tudo que se lembrem, seja útil ou não, seja inovador ou não, seja óbvio ou não. A disfuncionalidade do patent office americano permitiu assim à Apple adquirir patentes óbvias (não só à apple como é óbvio, mas é esta que estamos a discutir aqui). Eu acho sinceramente que os restantes players não viam valor em patentes deste tipo - ou porque efectivamente acreditavam que eram triviais, ou porque acreditavam que, se fossem a tribunal por causa delas, seria relativamente fácil demonstrar a sua trivialidade.
Não foi isso que aconteceu neste caso, mas acho que se, por exemplo, o julgamento fosse directamente entre a Apple e a Google o resultado poderia ser outro (ou seja, como disse, acho que a Samsung estava em desvantagem neste processo por ter origens estrangeiras, sendo que considero isso totalmente normal e compreensivel dado o sistema judicial dos states).
O meu ponto é que são formas óbvias de executar determinada função, tendo em conta o hardware em que serão executadas, e como tal não deveriam ser patenteadas. Também não entendo como é que por ex. o surface da Microsoft (o original, a mesa grande) não serviu como prior-art - e o facto de a microsoft ter isso antes do iphone dá alguma validade à minha teoria.
Para além destas patentes, realço outras que a apple tem usado nesta guerra:
1. Procura em várias bases de dados
http://patft.uspto.gov/netacgi/nph-Parser?Sect1=PTO1&Sect2=HITOFF&d=PALL&p=1&u=%2Fnetahtml%2FPTO%2Fsrchnum.htm&r=1&f=G&l=50&s1=8086604.PN.&OS=PN/8086604&RS=PN/8086604
2. Identificar links em texto
http://www.google.com/patents?id=aFEWAAAAEBAJ&printsec=abstract#v=onepage&q&f=false
A primeira foi utilizada pela Apple como base para a injuction relativamente ao Galaxy Nexus. Basicamente diz respeito a permitir a procura em várias bases de dados a partir de um unico local, que o Android faz com a procura (procurar na web, aplicações, contactos, etc.). Mais uma vez não entendo como é que isto é patenteável. Eu já implementei isto em projectos e esqueci-me de pagar royalties à Apple. Aliás, não podia pagar royalties, porque a Apple não licencia esta patente - a solução é não implementar o que tem impacto.
A segunda é a base para várias injuctions à HTC, e basicamente diz respeito a identificar links em texto, como por exemplo eu escrever
http://www.apple.com, e isso ser transformado num link. Sobre esta acho que, por exemplo, todo o html infringe... e desconfio que nos anos 80 existe prior-art (mailto:...).
No esquema global das coisas, eu olho para estas patentes e não vejo inovação. Não vejo o avançar da tecnologia que o marketing da Apple tanto apregoa. O que vejo é muito dinheiro e tempo gasto a pagar a advogados para fazerem o filling destas ideias - o tempo/esforço de engenheiros/designers para "inventar" este genero de patentes é minimo ou nulo, o tempo/esforço dos advogados é considerável. E faz-me confusão que esse dinheiro seja gasto nisso ao invés de inovação real.
Este genero de patentes (que na minha opinião são apenas ideias, logo não patenteáveis), ao serem atribuidas, tem impacto no resto da industria, porque conferem o monopólio da forma óbvia de implementar determinadas funcionalidades. E não se trata de uma questão de pagar à Apple - a Apple não quer licenciar este tipo de patentes, e dado que não são SEP não é obrigada a tal (mas quer que as restantes empresas licenciem as suas patentes SEP, o que acho bem, mas algo injusto).
No fundo é claro que a culpa é do sistema de patentes americano, mas isso não isenta a Apple de culpa, já que esta usa e abusa dessas ineficiências de uma forma que não vejo outras grandes empresas fazerem (só os patent-trolls o fazem).