Eu vejo, mas lá está é subjectivo. Uma coisa que temos de reconhecer é que a Apple faz produtos tremendamente intuitivos. O Slide to Unlock nunca sido usado em touch screens (comercialmente disponíveis, sim eu sei há uma coisa qualquer obscura como prior art), e a partir do momento em que foi usado parece a única forma concebivel de se desbloquear um telemóvel. O Tap to Zoom pode parece intuitivo hoje, e algo que banal, mas revolucionou a navegação web quando apareceu o iPhone e não vejo uma razão credível para não ter sido implementado no Windows CE/Mobile (a não ser claro, o facto de não ser obvio).
A razão é que no tempo do Windows CE/Mobile usavam-se écrans resistivos e não multitouch, com interação através de stylus. A partir do momento que passas para écrans capacitativos e multitouch acho que é bastante óbvio o tap/pinch to zoom. Com uma stylus não é tão óbvio o tap to zoom, e não sendo multitouch é impossivel o pinch to zoom. Estas patentes resultam de formas óbvias de usar uma tecnologia nova. E como disse não sei como é que o surface da MS não é considerado prior art (foi lançado/demonstrado no verão de 2007 se não estou em erro).
A parte interessante é que muitas das patentes da Motorola e Samsung também podem ser consideradas triviais, o problema é que lidam com tecnologia wireless que é essencialmente chinês para o publico em geral, e nem se percebe o quão pouco trazem para a mesa. Não nos esqueçamos que a primeira vitima desta guerra foi a Apple com um injunction na Alemanha, por causa do countdown timer da Motorola. Algo banal, mas faz parte do standard, e mereceu a injunction.
Eu percebo relativamente bem as patentes da Samsung/Motorola/Nokia de que falas. E sim, algumas não trazem grande coisa para a mesa (embora outras sejam realmente inovadoras), mas sendo consideradas no standard têm de ser implementadas assim. E para isso é que existe o licenciamento FRAND.
E também acho algo descabido processarem a Apple por causa dessas patentes, mas é importante perceber o contexto em que tal se insere:
1. São patentes essenciais para a implementação de telemóveis, logo têm obrigatoriamente de ser licenciadas, de acordo com um rate acordado entre as partes;
2. Caso não haja acordo, compete ao tribunal decidir o rate a que essas patentes serão licenciadas;
3. A Apple necessariamente tem de licenciar essas patentes, mas como não licencia as suas patentes, as restantes empresas (que implementam Android) bateram o pé nas SEP, e exigiram rates que podem ser considerados abusivos;
Ou seja, a Samsung/Motorola tentam usar patentes essenciais ao standard para obrigar a Apple a licenciar a suas patentes, o que é algo duvidoso do ponto de vista ético, mas por outro lado compreensivel. Era prática comum na industria existirem acordos de cross-licensing entre elas (viviam todas em paz), até que chega a Apple ao mercado e apresenta um produto muito bem sucedido (que consegue implementar em parte devido às patentes das outras empresas que são obrigadas a licenciá-las), mas não licencia as suas. Isto cria um desconforto na industria e cada um usa as armas que tem: a Apple as suas patentes que para mim não deveriam ter sido atribuidas, e os restantes players patentes SEP que não deviam ser usadas desta forma.
Mas isto resolve-se facilmente: vai-se a tribunal e este decide o rate que a Apple tem de pagar. Não se podem fazer injunctions a produtos com base em patentes SEP, logo a Apple nunca está em risco de não vender os seus produtos. Os restantes players estão em risco de não venderem os seus produtos porque utilizam o tap/pinch to zoom.
É a meu ver uma reação errada, mas é uma resposta a um comportamento que esses players consideram injusto (e isto é subjectivo obviamente).
Visto a essa luz, a contribuição da Apple com o Tap to Zoom e o Pinch to Zoom (que mais uma vez, é obvio à posteriori como quase tudo o que vem da Apple) é bastante superior ao countdown timer da Motorola.
Como disse, acho que são óbvias, sendo da Apple ou de qualquer outro. Também acho que a tão falada patente da google sobre o notification center é relativamente óbvia, mas certamente menos do que as que discutimos aqui. Mas concordo que essa patente deve valer pouco, porque terá que ter especificidades, para as quais será muito fácil dar a volta: duvido muito que a patente cubra o comportamente de "um menu que sai do topo do telefone com informações", mas ainda não a vi.
A seguir vem a questão filosófica. Uma empresa deve ou não poder proteger estas inovações com um monopólio temporário. É uma questão de ideologia essencialmente e como tal subjectivo. Pessoalmente acho que o mais razoável era reduzir o tempo de vida destas patentes para no máximo 8 anos.
Estás a colocar a questão em termos muito abstractos e de muito alto nível. Eu não questiono o sistema de patentes no geral. Eu questiono o genero de patentes que falámos aqui, que passam por inovação, mas que eu acho que são apenas ideias, e são "óbvias para alguém versado na arte". E repara que isso são duas condições para algo não poder ser considerado uma patente.
O problema é que grande parte das patentes de software acaba por bater nestes dois pontos: ou são apenas ideias, ou são "óbvias para alguém versado na arte". E acho que antes de se formar uma opinião sobre este assunto se devia fazer uma reflexão sobre os seus possíveis impactos. Ajuda igualmente ter uma perspectiva histórica e pensar se, por exemplo em 1970 isto ou aquilo fosse patenteado como é que estavámos hoje em dia. Eu acho que bem pior, e nessa altura é que foram inventadas coisas realmente inovadoras.