Partilha MSFS 2020 - Volta ao mundo em caracol

Como sempre, a cada 5 etapas um resumo do percurso.

40 Etapas
12.226 km
54 horas 56 minutos
1980 litros de combustível (valor aproximado)

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Etapa 41
Kulu Manali, India (VIBR) - Delhi, India (VIDP)
Distância : 410 km
Tempo de voo: 1:30
Combustível: 25 galões

É incrível como nem mesmo no fim do mundo, enterrado em montanhas até ao céu, as obrigações e a burocracia não nos largam.
Tinha à minha espera nos serviços do aeroporto um telegrama do consulado Português que andava desvairado à minha procura.
Devido ao atrito que existe entre a India e o Paquistão na região de Caxemira, quem atravessa a fronteira nesta região necessita de uma permissão especial, que eu obviamente não tenho
Assim, o destino de hoje é Delhi, para uma visita guiada à embaixada Portuguêsa.

Parece que o embaixador é um fã meu e da minha viagem e teve a amabilidade de me cobrir as taxas de parqueamento no aeroporto internacional de Delhi. Vou aproveitar as instalações e fazer uma revisão geral ao Caracol. Tantos meses de montanha têm esforçado demasiado o motor e além disso tenho um problema no travão da roda direita que me anda a chatear à dias.

Quem se colou à grande nas taxas e serviços do aeroporto foi o Comandante Trindade, que aproveitou o gosto do embaixador pela aviação para também sacar uma estadia para duas noites.

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Depois de convencer o controlador aéreo que tanto eu como o Trindade somos pilotos com experiencia em aviação de combate com milhares de horas juntos,lá nos deixou uma descolagem em formação.

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A saída deste vale é incrível com gargantes profundas escavadas pelo rio.

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Apesar de estas montanhas verdes ultrapassarem os 3000 metros, é lá atrás que fica o verdadeiro tecto do mundo. Quase que parece um outro mundo tirado de um livro de fantasias.

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Aos poucos as montanhas foram esmorecendo...

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...até darem ligar às intermináveis planícies da India.

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Já sobre os arredores de Delhi, avista-se uma névoa baixa sobre o centro da cidade.

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Que afinal não era mais do que poluição. Depois dos últimos meses, esta aproximação foi sentida como um murro no estômago.

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O céu deveria ser azul, mas não era.
É muito triste ver o mal que fazemos ao planeta. E depois de tantos meses a apreciar locais absolutamente fantásticos, ainda se torna mais aflitivo perceber os paraísos que podemos perder para sempre se não tivermos cuidado.

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Agora para animar, esperam-me dois dias de papeladas e chatices.
Iupiii!!!!
 
Parece que o embaixador é um fã meu e da minha viagem e teve a amabilidade de me cobrir as taxas de parqueamento no aeroporto internacional de Delhi. Vou aproveitar as instalações e fazer uma revisão geral ao Caracol. Tantos meses de montanha têm esforçado demasiado o motor e além disso tenho um problema no travão da roda direita que me anda a chatear à dias.

O jogo simula o desgaste dos aparelhos?

Boas viagens e continua. Não ligo nenhuma a simuladores, muito menos de aeronautica, mas tenho gostado muito de acompanhar as peripécias.
 
O jogo simula o desgaste dos aparelhos?

Depende do avião. Nos aviões default que vêm de origem, não. Não há avarias. Nos aviões addons varia. Neste que estou agora a usar, sim. Ele simula praticamente tudo o que possas imaginar que se possa avariar num avião. Arrisco-me a dizer que este addon é provavelmente o addon mais completo de todos os que conheço para qualquer simulador. Ele até simula o desgaste quando não estás no simulador. Ele vê as datas entre voos, verifica o modo como deixaste o aparelho, por exemplo se meteste as protecções e depois quando voltas a pegar nele tens o desgaste concordante.

Vou aproveitar que vais passar pela China e vou te enviar uma lista de cenas para trazeres de lá

dodi280, eu trago-te o que quiseres mas olha que as entregas são são lentinhas.
 
Última edição:
Etapa 42
Delhi, India (VIDP) - Surkhet, Nepal (VNSK)
Distância : 450 km
Tempo de voo: 1:46
Combustível: 30 galões

A sensação de pertença é algo que todos nós experimentamos na vida. A percepção que existe um lugar ao qual pertencemos. O nosso lar. Este pode ser um lugar ou um conjunto de lugares.
Tal como nós, os povos nómadas também têm lugares aos quais pertencem. A diferença é que estes têm diversos lugares. É por isso que apesar de nómadas, normalmente as suas viagens não são errantes mas contidas aos seus lugares.
Nesta volta ao mundo eu tenho-me sentido um nómada. E tal como eles, o meu percurso não é errante mas perfeitamente definido. Ele é composto pelo que ficou para trás mas também do que me espera e embora ainda não saiba ao certo que lugares serão esses, eu sei que só podem ser esses e não outros.

Em praticamente todos os sítios por onde passei, senti-me um pouco em casa. Mesmo sendo estrangeiro para as gentes locais, a forma sempre maravilhosa como tenho sido recebido ou talvez apenas a simples apreciação pelos diversos lugares sempre me deram um pouco a impressão que também eles eram meus, que eu lhes pertencia.

Em Dehli infelizmente esse não foi minimamente o meu sentimento. Senti-me desconfortável e desejoso de dali sair. Acho que depois de tanto tempo passado nos Himalaias, o choque especialmente da poluição marcou-me duma maneira negativa que não consigo sacudir. Ainda por cima com as chatices da burocracia na embaixada, a vontade de me pirar de volta para o meu mundo era mais que muita.

Foram dois dias a despachar. E não fui só eu. Mesmo o Comandante Trindade, sempre tão apreciador das "gastronomias" locais, só pensava em pirar-se.
E como o mundo é realmente pequeno, também encontramos na embaixada o Comandante João Gouveia preso pelos mesmos motivos.


Sem surpresas, na manhã do 3º dias estávamos prontos a descolar. Isto é suposto ser um dia de céu azul em Dehli.

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Tal como um fungo cutâneo, a poluição agarra-se a Dehli como se dela precisa para existir.

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Já longe da cidade, e com os Himalais à nossa esquerda, o céu azul sempre à nossa espera.

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Para pilotos habituados a voar em formações militares cerradas em caças a jacto, voar juntos com 3 caracóis com um céus destes custa pouco mais que respirar.

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O nosso destino fica já nas encostas dos Himalaias. Mesmo sendo muito mais baixo que as montanhas que temos visto, estes vales têm uma beleza de cortar a respiração.

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Estava de tal maneira enfeitiçado com a paisagem que me esqueci completamente de tirar uma fotografia do aeroporto. Esta foi a última feita do ar.

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Não podia ter pedido melhor etapa. Um dia limpo, luz de final de dia lindíssima, paisagem a condizer e boa companhia. Posso dizer com segurança que já tive dias bem piores. :beerchug:

Os três mosqueteiros.

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Descobri este teu tópico por acaso. Nem sei como... Sigo mais o tópico do MSFS na secção Jogos. Está fabulosa a tua voltinha ao mundo. Adorei. Eu tmb cheguei a ir com o meu pai ao terraço do aeroporto de Lisboa, eu adorava. Já foi há uns bons anitos. Eu tmb jogo/simulo com o MSFS/xplane11/p3d/FSX/fsx2004 desde 2006 mas atualmente ando um pouco, ou talvez muito, sem vontade de mexer em aviões. Mas adorei o teu documentário e continua. Talvez me dê motivação para recomeçar a voar.
 
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Obrigado conti. Como eu te compreendo. Isto dos voos é por fases. Depois do P3D v3 tive uns anos afastado dos aviões civis e agora com o MSFS o bichinho voltou em força.
Olha, se servir como empurrão, e visto que tens o msfs, se te quiseres juntar para uma etapa aqui na minha volta apita. És muito bem vindo.
 
Etapa 43
Surkhet, Nepal (VNSK) - Kathmandu, Nepal (VNKT)
Distância : 450 km
Tempo de voo: 1:40
Combustível: 21 galões


A noite passada foi de festa. O Comandante Trindade festejou 47 primaveras e como tal só acontece uma vez na vida, pagou-nos aos três uma monumental jantarada. A deita foi obviamente tardia e hoje de manhã recebi uma mensagem no telemóvel do aniversariante a comunicar-me que ainda estava a "desembrulhar" um dos presentes e que hoje não poderia juntar-se a nós na etapa.
Assim, na cabeceira da pista só eu e o João nos apresentámos ao trabalho.
O João de volta ao seu adorado Cessna 414.

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Como na chegada do dia anterior não tinha mostrado nenhuma fotografia deste magnífico aeroporto aqui ficam duas. Uma do mesmo e outra já à saída do vale onde ele se localiza.

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O menu para hoje é voarmos para leste encostados a dois dos gigantes do clube dos 8000m. Mas até lá ainda tivemos uma centena de quilômetros sobre belas paisagens com vales lindíssimos.

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Ao longe já se avistam os matulões.

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O meu "wingman" sempre em formação.

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Aqui, na janela esquerda encostada ao pilar da estrutura do avião temos o Dhaulagiri, a sétima montanha mais alta do mundo com 8167m e imediatamente a seguir, já a direita do pilar no visor frontal, ao longe a cordilheira dos Annapurnas com vários picos perto dos 8000m e o seu maior, o Annapurna I com 8091m, a décima mais alta do mundo.
Esta montanha apesar de ter sido o primeiro pico com mais de 8000m a ser escalado é na realidade o mais perigoso. Não tanto pelo aspecto técnico mas por causa das constantes avalanches. Um em cada 3 alpinistas que tentam o cume morrem.

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Uma vista mais de perto desta incrível cordilheira.

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Na fase seguinte do voo, afastamo-nos um pouco desta montanhas mais altas e tínhamos como objectivo um aeródromo pequeno, fantástico no topo de uma montanha. Mas este aeródromo não tem quaisquer instrumentos e a aproximação tem de ser à vista. Com as nuvens que temos pela frente eu e o João decidimos encurtar a etapa e aterrar em Kathmandu, que permite uma aproximação por instrumentos sem visibilidade exterior.

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Parecia que os deuses estavam contra nós. O tempo sobre Kathmandu estava terrível e foi contra todos os meus instintos que segui em frente.
Mesmo com instrumentos, o meu avião não tem GPS, é tudo com radio-navegação e a aproximação a este aeroporto é feita por entre vales com montanhas bem mais altas que nós. A navegação não permite erros absolutamente nenhuns. A concentração tem de estar a 200%.

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A descida foi toda sob uma pilha de nervos com o nariz literalmente enfiado nos instrumentos. Felizmente a baixa altitude a visibilidade abriu um bocadinho

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Mesmo no final, as luzes da pista pareceram. É mais que suficiente para uma aterragem segura.

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O João teve uma dificuldade acrescida. Não tinha cartas nenhumas com ele e tive de ser eu por radio a transmitir-lhe as instruções para a aproximação final. Isso e um pequeno problema com o autopilot fez que que tivesse de abortar a primeira tentativa. À segunda foi tipo manteiga, sem problema nenhum para além dos nervos.
Os dois já na segurança do chão.

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Etapa 44
Kathmandu, Nepal (VNKT) - Lamidanda (VNLD) - Lukla (VNKL)
Distância : 240 km
Tempo de voo: 1:05
Combustível: 12.5 galões

Catmandu é uma cidade incrível. É enorme com cerca de 2.5 milhões de habitantes. Tendo 7 lugares classificados pela UNESCO como património da Humanidade e estando num vale à entrada dos Himalaias é sem surpresa que o Turismo seja uma das maiores actividades comerciais da cidade.
Sendo a capital do Nepal, é também o maior ponto de abastecimento da região. E sabendo nós como é o nosso povo, onde há gente e onde há dinheiro a ganhar, então também há um português.
Na cabeceira da pista, além de mim e do João, também lá estava o Pedro Costa com o seu incrível Twinotter, carregado até ao tecto para uma entrega de materiais em Lukla.

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Vista do vale de Catmandu que deu o nome à cidade.

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A etapa de hoje tem uma paragem intermédia, para entregar dois passageiros que eu já trazia desde o aeroporto anterior. Esta primeira parte é ainda sobre os baixos Himalaias, "colinas" com apenas 3 quilômetros de altitude.

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A escolta.

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E por fim Lamidanda, um pedaço de terra no cimo duma montanha.

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A aterragem ia correndo muito mal para mim. O meu avião tem uma característica que apesar de ser pequeno tem uma velocidade de aterragem muito alta. E para ajudar, aqui o vosso comandante fez um juízo errado da pista de aterragem que era muito inclinada e aterrou no sentido descendente. Resultado, além de quase ter derretido os travões, ultrapassei o limite da pista e só parei já no início da encosta. Não ganhei para o susto.

Felizmente os locais ajudaram a recuperar o meu avião para cima e lá me juntei ao resto do gang para descarregar a carga.

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O resto do voo foi um tirinho, meno de 40 quilômetros até à entrada do vale de Lukla.

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A aproximação a Lukla é feita dentro deste vale estreito e tanto a entrada como a saída são feitas pelo mesmo local. Por isso só pode ir um avião de cada vez para não haver conflito de trânsito. Eu fiquei para último, logo tive de andar às voltas à entrada do vale até ter autorização.

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Lukla é considerado um dos aeroportos mais difíceis do mundo. A pista é curtíssima, brutalmente inclinada para compensar a falta de espaço e uma vez decidida a aterragem não há hipótese de abortar. Ou se aterra a bem ou se aterra a mal, mas aterra-se mesmo.

Para quem não conhece, a Lukla é o pequeno planalto que fica à direita da bússula do avião nesta primeira imagem. Dá para ver a pista.

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Felizmente todos nós três já tínhamos experiencia neste aeroporto por isso, mesmo sob alguma pressão a aterragem foi sem problemas. Este é o aeroporto que dá acesso ao Everest. É por aqui que chegam todos os alpinistas que tentam a montanha e é seguramente um dos mais belos aeroportos do mundo.

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Etapa 45
Lukla (VNKL) - Baghdogra, India (VEDB)
Distância : 480 km
Tempo de voo: 2:40
Combustível: 40 galões

Everest
Hoje é o grande dia. De todos os locais por onde tinha idealizado passar nesta volta ao mundo, o Everest está no topo das minhas preferências. Não há nenhum sítio do mundo que mais gostasse de conhecer.

Nos últimos dias tem nevado bastante, por isso a paisagem mudou radicalmente. Eu e o Comandante Trindade, entretanto já recuperado do aniversário, prontos para mais uma aventura.

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É difícil em fotografia mostrar a inclinação da pista de Lukla. Aqui, no início da mesma dá para perceber que a largada é quase uma queda.

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Visto que já sabemos que o nosso Cessna sobe até aos 20000 pés, o plano para hoje é retomar pelo vale até à planície e aí andar para trás e para a frente até subirmos pelo menos até aos 18500 pés e depois regressar ao vale e seguir até ao sopé do Everest. Na cartografia encontrámos um ponto de passagem a cerca de 19500 pés, por isso talvez consigamos passar por aí.

O dia não podia estar mais bonito. Sol e neve combinam na perfeição.

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Temos pela frente uns penosos três quartos de hora até subirmos aos 18500 pés num circuito fechado.

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Esta fase do voo foi bastante aborrecida. Os aviões são seres caprichosos e hoje os nossos não nos estão a ajudar. Os motores estão a render pouca potência e a subida é penosa e lenta. E para ajudar à festa, as nuvens adensam-se de minuto para minuto.

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18500 pés e já a caminho do Everest.

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Mesmo no meio de montanhas gigantes, que fariam sombra a qualquer outra em qualquer outro continente, o maciço do Everest com os seus 29000 pés, impõe-se duma forma muito especial. Com o avião a lutar com o ar rarefeito próximo dos 20000 pés, o Everest parece que flutua acima de todas as outras.

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O famoso glaciar de khumbu, onde se situa o campo base do Everest e por onde partem os escaladores com grandes ambições,

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Infelizmente hoje o avião não quer colaborar e não conseguimos subir o que queríamos. Frustrado por não ter a vista que queria da montanha decido tentar a passagem que tinha planeado. O Comandante Trindade que entretanto vinha mais atrasado, teve o tremendo bom senso de não arriscar e decide sair pelo vale por onde chegámos.

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Isto foi um erro crasso que me pode custar muito caro.
O planalto à minha frente parece um beco sem saída e não vislumbro forma de o ultrapassar. Confuso e stressado pelo acumular de decisões mal ponderadas luto com o avião para me manter a voar e conseguir manobrar nesta apertada arena.

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Com o discernimento provavelmente toldado pela situação, perdi-me e não encontro o ponto de entrada deste planalto. Foi com horror que verifico que o único vale de saída para altitudes mais baixas está bloqueado com nuvens que entretanto vão apertando o cerco. Arriscar por aí seria um suicídio por isso a minha única alternativa é mesmo encontrar o ponto por onde entrei.

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Felizmente lá dei com a saída e já com o nevoeiro a apertar-me os calcanhares decido pirar-me para as planícies com o rabinho entre as pernas. Este foi mais um disparate que podia perfeitamente ter sido evitado. Qualquer dia acaba-se-me a sorte.

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Com o céu praticamente coberto, a mim e ao Trindade só nos resta dirigir-mo-nos para um aeroporto nas planícies que permita aterragem com instrumentos.
Ao longe, o Everest a lembrar-me de um ditado que os alpinistas que o tentam têm sempre presente.

"Não somos nós que escolhemos a montanha. É ela que nos escolhe a nós."

Por pouco, eu não ia sendo um dos "escolhidos".

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A partir daqui foi um voo sem espinhas. As nuvens felizmente iam tendo algumas abertas e não chegavam ao solo.

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Aterragem super simples e com boa visibilidade.

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Não foi o fim que queríamos para hoje mas foi o fim possível.
Estamos vivos para voar mais um dia, que é o que realmente importa.

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Nestas alturas (no pun intended 😅) não desejarias ter optado por um avião que desse para subir mais um bocado?

Para mim, que estou a acompanhar esta jornada, confesso que gostava de ter visto o Everest noutra perspectiva.

Quase que fiquei com vontade de ligar o jogo e ir lá eu 😆

Abraço e continuação de boas viagens.
 
Nestas alturas (no pun intended 😅) não desejarias ter optado por um avião que desse para subir mais um bocado?


Como tinha dito no relato, de todos os locais do mundo, o Everest é aquele que mais desejava conhecer. É dos pouco locais por onde tinha a certeza no início da volta que teria mesmo de visitar. Chegar cá e praticamente não o ver, até porque a montanha que aparece no relato é na realidade o Lhotse (o Everest fica obstruido por este) foi uma monumental frustração.
A frustração foi tão grande que me fez depois disso cometer um erro terrível que me ia custando a vida virtual. Sempre disse que pretendia voar o mais realisticamente possível e arriscar a vida naquele planalto é algo que só pode ser justificado pela frustração e não pelo discernimento.

No entanto, estes impedimentos, estas frustrações dão-me algo extremamente valioso que é mesmo muito difícil de replicar num simulador. Eu não pretendo apenas simular a pilotagem. Eu quero acima de tudo sentir que estou realmente a viajar.

Repara que toda a gente sabe que o Everest tem cerca de 8850m de altitude. Basta ir ao google.
Mas uma coisa é sabermos em abstracto que tem essa altitude outra coisa é sentirmos o que são 8850m.
Eu nesta volta ao mundo tenho visitado imensas montanhas. Vi montanhas com quase 4 quilômetros em África, fiquei fascinado com o monte Elbrus, o maior da Europa, vi montanhas majestosas que desconhecia por completo no Irão, etc. Ando à vários dias a voar nos Himalaias rodeado de montanhas de 6000m para cima e sei bem o que cada degrau na altitude significa. Eu não as escalei com as mãos e as pernas, mas ter um avião que me obriga a lutar para lá chegar ajuda bastante a sentir a altitude.

Eu não quero apenas olhar para os locais mas sentir prazer por lá chegar.
É verdade que esta etapa deu-me muita frustração mas garanto-te que todos os segundos que lhe seguirão nesta volta ao mundo serão pelo menos um nadinha mais felizes precisamente porque falhei. Porque sei que posso falhar e por isso os sucessos terão muito mais valor.


Agora para responder à tua questão:
O avião que escolhi é perfeito. Tudo nele dá trabalho.
Não sei se tomaste atenção mas quando disse que demorei 45 minutos só para chegar aos 18500 pés, é mesmo verdade. Eu e o Trindade levamos uma valente seca a voar para trás e para a frente sempre no mesmo sítio só para subir aquela altitude. Nunca uso GPS o que quer dizer que perco imenso tempo a preparar as etapas, nem sempre consigo chegar aonde quero e para lá chegar tenho uma trabalheira.
Mas este é o segredo para continuar. Se fosse fácil já tinha desistido garantidamente.

Mas ainda me deu outra alegria muito grande que eu não contava. Foi o facto de tu também teres ficado frustrado. Isso quer dizer que também tu que apenas estás a acompanhar o meu relato estás na realidade a viajar e que eu estou a conseguir transmitir pelo menos um bocadinho do que estou a sentir.
 
Mas ainda me deu outra alegria muito grande que eu não contava. Foi o facto de tu também teres ficado frustrado. Isso quer dizer que também tu que apenas estás a acompanhar o meu relato estás na realidade a viajar e que eu estou a conseguir transmitir pelo menos um bocadinho do que estou a sentir.
Tenho a ideia de já ter referido o facto de estares a fazer um trabalho monumental. E lá está, como referes, se calhar é esse realismo que queres sentir e transmitir, aliado à forma como relatas as tuas experiências, que nos faz (pelo menos falo por mim) viajar contigo.

Continua o excelente trabalho, que a malta está cá para partilhar as frustrações, mas também as alegrias e os sentimentos de conquista.

Abraço
 
Muito fixe essas viagens... Por acaso era para perguntar se ias passar no aeroporto de Lukla, pois costumo ver vídeos de aterragens naquele "aeroporto", e é simplismente brutal. Não sei se tinha coragem de lá ir na vida real 🤣

Pelo que sei, é mesmo considerado o aeroporto mais perigoso do mundo, pelo "bingo" de variantes que dificultam a vida dos pilotos.

Em relação ao Everest, sempre podes voltar lá antes de seguir viagem, não?
 
Adorei e estou a adorar toda essa jornada! Acho que isto é o incentivo que me faltava para adquirir o novo FS. Perdi conta às horas 'perdidas' no FSX, alguns anos que fui assinante da Navigraphs e alguns aviões comprados a editoras.. Falta-me investir num moderno Joystick com um throtle como deve ser para dar o salto..
Mas parabéns, está fantastico este tópico!
 
Malta, obrigado pelo incentivo.

Em relação ao Everest, sempre podes voltar lá antes de seguir viagem, não?

Poder podia mas não ia fazer grande diferença. As montanhas ao redor do Everest são demasiado altas para o meu avião. O que posso fazer é pedir boleia ao Comandante João Gouveia e ao seu Cessna 414 que consegue voar acima do Everest para um passeio e meter aqui as fotografias.


Acho que isto é o incentivo que me faltava para adquirir o novo FS

RMAF, faço-te o convite que já fiz a tantos outros. Se arranjares uma montada, és muito bem vindo para uma ou mais etapas nesta jornada.

Abraço a todos!
 
Como manda a tradição, a cada 5 etapas um resumo do percurso.

45 Etapas
14.256 km
63 horas 37 minutos
2467 litros de combustível (valor aproximado)

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Etapa 46
Baghdogra, India (VEDB) - Paro, Butão (VQPR)
Distância : 170 km
Tempo de voo: 0:50
Combustível: 10 galões


Como tem sido hábito nestes últimos dias, hoje voltamos a saltar entre as planícies e as montanhas.
O tempo está parcialmente encoberto mas mesmo assim iremos arriscar o incrível aeroporto de Paro como destino. O único aeroporto no reino do Butão e famoso entre outras coisas por ter uma das mais difíceis aproximações para airliners.

Como é um voo curtinho eu e o Trindade decidimos pelo final do dia.

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Daqui para a frente o que se seguiu foi uma autentica sinfonia de nuvens e beleza. E como todas as boas sinfonias, esta não precisa de palavras para ser apreciada. Fiquem com esta sequência de imagens das incríveis nuvens que o MSFS2020 nos ofereceu para hoje.

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Infelizmente nem tudo foram rosas neste voo e para nos manter animados o S. Pedro acho que era capaz de ser giro se tivéssemos de efectuar uma das mais difíceis aproximações que existe com céu totalmente encoberto e sem visibilidade.
E quem somos nós para o contrariar.
Quando virámos para o inicio da aproximação já no meio das montanhas a paisagem era esta.

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A partir daqui foi sempre a piorar. Por vezes lá víamos o vulto de uma montanha mas nada que chegasse para nos sossegar.

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Esta é uma aproximação por instrumentos o que quer dizer que a visibilidade não é obrigatória.
O aeroporto de Paro tem várias aproximações possíveis mas muitas exigem instrumentos que os nossos aviões não possuem.

Para o nosso caso a aproximação possível envergonharia a pior das montanhas russas. Ela não tinha curvas mas mesmo no final tínhamos de descer mais de 6000 pés em cerca de 10 quilômetros. Já fiz voos picados de bombardeamento nas minhas missões militares onde não descia tanto.
Como íamos literalmente às cegas eu e o Comandante Trindade esperávamos a qualquer momento esborracharmo-nos no chão.

Não que tivéssemos planeado, mas simplesmente foi assim que calhou, o Trindade ia uns segundos à minha frente. As suas orientações mesmo no final da descida evitaram o pior e pude corrigir um ligeiro desvio do rumo.

Mas mesmo assim, a primeira vez que vislumbrei a pista, foi isto que vi.

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O meu único instinto foi puxar a manche que todas as forças.
As forças G aliadas ao meu natural cagaço fizeram com que as chamuças do almoço fluíssem com toda a facilidade das minhas entranhas para o meu banco.

A margem foi tão pequena que nem deu para afrouxar a manche. A pancada no chão foi tremenda e diria que no limite daquilo que os pneus aguentariam. Felizmente ainda não foi desta.

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Através do radio o Comandante Trindade avisou-me que para os lados dele o resultado não foi muito diferente e que esta noite teremos de encontrar alojamento com serviços de lavandaria para tratar dos estragos.

O aeroporto de Paro é icônico com os seu edifícios tradicionais com tectos verdes, mas sinceramente depois desta aterragem isso é matéria para outro relato.

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Eu não quero apenas olhar para os locais mas sentir prazer por lá chegar.
Chegar ao destino é sempre importante, mas em termos de satisfação, não há nada como desfrutar do caminho percorrido.
A viagem continua simplesmente fenomenal.

Vocês voam utilizando condições reais de clima?
Preparem-se para chuvas e ventos fortes nos próximos tempos.
É que na Ásia está começar a época das monções e dos tufões.
 
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